E vindo o anoitecer, ele se assentou à mesa com os doze.
Comentário de J. A. Broadus
(20-25) ENQUANTO COMIAM A PÁSCOA, JESUS DECLARA QUE UM DOS DOZE O ENTREGARIA (Marcos 14:18-21, Lucas 22:21-23, João 13:21-30).
E vindo o anoitecer – após o pôr do sol (veja em “Mateus 26:17”); não havia uma hora específica da noite fixada pela lei ou pelo costume.
ele se assentou à mesa, conforme NVI, “estava reclinado à mesa”, como em Mateus 26:7 (veja também em Mateus 8:11). Originalmente, havia a orientação (Êxodo 12:15) de que a Páscoa deveria ser comida de pé, “com os lombos cingidos, sapatos nos pés e cajado na mão; e a comereis apressadamente”, representando as circunstâncias de sua primeira observância. Essa postura e urgência haviam sido abandonadas, provavelmente porque as circunstâncias já não exigiam isso. O Talmude de Jerusalém diz: “É costume dos servos comer em pé, mas agora que ele (os israelitas) comerão reclinados, que se reconheça que passaram da escravidão para a liberdade.” Podemos concluir que as questões de postura e pressa realmente não eram importantes, e por isso Jesus se adequou ao costume. Reclinar-se à mesa era, em geral, considerado uma prática cômoda, mas não era necessariamente errada; e, nesse aspecto, assim como no vestuário e em várias outras questões, Jesus seguiu os costumes.
com os doze discípulos. A palavra “discípulos” foi omitida em alguns documentos antigos e muitos posteriores, provavelmente para se alinhar a Marcos 14:17; a palavra está implícita, mesmo que não seja expressa. Doze formavam um grupo de tamanho normal. Josefo afirma (“Guerra” 6, 9, 3) que o grupo que participava de um cordeiro pascal consistia em no mínimo dez homens, e às vezes chegava a vinte. Era necessário ter um bom número de pessoas para consumir todo o cordeiro (Êxodo 12:4, 43-46). Sobre as diversas etapas da observância da Páscoa, como descritas nos escritos rabínicos, consulte Lightfoot, Meyer e um relato altamente interessante em Edersheim. Não é certo até que ponto esse conjunto de observâncias já existia no tempo de Cristo. Tampouco lançam luz clara sobre a instituição do pão e do vinho por nosso Senhor. Embora tenha sido instituído durante a ceia pascal e utilizando seus elementos, a cerimônia cristã não depende, em significado, importância ou observância adequada, da cerimônia judaica. Lucas relata (Lucas 22:14-16) a expressão de satisfação de nosso Senhor em comer a Páscoa com seus discípulos. Ele também afirma (Lucas 22:23-30) que “houve também entre eles uma contenda sobre qual deles parecia ser o maior”, como mencionado anteriormente em Mateus 18:1 e Marcos 9:34. Jesus repreende esse espírito, em termos semelhantes, primeiro (Lucas 22:23-27) aos que ele expressou após o pedido ambicioso de Tiago e João (Mateus 20:25-27; Marcos 10:42-44), e, em segundo lugar (Lucas 22:30), àqueles registrados por Mateus em Mateus 19:28. Assim, é possível que Lucas, que não tem registro dessas falas, relate aqui o que foi dito naquela ocasião. No entanto, é muito mais provável que, em uma nova oportunidade, Jesus repreendesse a mesma falha em termos semelhantes, como muitas vezes o vemos fazer (compare com Mateus 21:12). A disputa sobre quem era o maior pode ter sido provocada, neste caso, por questões de prioridade na mesa. A Mishná (“Sabbath” 23, 2) menciona o uso de sorteio para determinar o lugar à mesa, mesmo entre os membros de uma família. Lucas passa diretamente do cálice pascal inicial para contar sobre a instituição do pão e do vinho memorial por nosso Senhor; depois narra a alusão a Judas, a contenda entre os discípulos, e assim chega ao aviso dado a Pedro. Essa disputa também sugere uma ocasião muito natural para o lava-pés de Joao 13:1-17, como outra lição objetiva de humildade, correspondendo exatamente à de Mateus 18:2. [Broadus, 1886]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.