E enquanto comiam, Jesus tomou o pão, abençoou-o, e o partiu. Então o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo.
Comentário Schaff
A instituição da Ceia do Senhor. Esta festa de amor, destinada a unir os corações dos cristãos a seu Senhor e uns aos outros, tem sido, como a própria pessoa de nosso Senhor, transformada em ocasião de controvérsias, igualmente irrefletidas e infrutíferas. A bênção da santa comunhão não depende da interpretação crítica dos relatos evangélicos, por mais importante que seja em seu lugar, mas da fé filial, que a recebe. As passagens a serem comparadas constantemente são:Marcos 14:22-25; Lucas 22:19-20; 1Coríntios 11:23-29. Nosso Senhor, nesta ocasião, fundou uma ordenança permanente na Igreja cristã; um sacramento, apontando para Sua morte no passado, para Sua vida no presente, para Sua vinda no futuro; do qual é um dever cristão participar, e um pecado participar indignamente; sendo uma comunhão de crentes como membros do mesmo corpo de Cristo (1Coríntios 10:16-17). O ponto principal diz respeito ao significado das palavras:
isto é o meu corpo (Mateus 26:26). “Isto” no original é neutro, “o pão” é masculino. “Isto” não significa “este pão”, mas “pão neste serviço”.
O “é”, pode não ter sido expresso na linguagem aramaica usada por nosso Senhor. A relação entre as palavras “isto” e “meu corpo”, não pode ser determinada apenas por este verbo. As quatro visões principais podem, no entanto, ser classificadas sob dois sentidos dados a “é”:(1) Literal, (a) visão romanista e (b) luterana; (2) Figurativa, (a) visão zwingliana e (b) calvinista.
(1) Interpretação literal
(a) Visão romanista (chamada transubstanciação):Isto é (real e essencialmente) meu corpo. Isto (e nada mais) envolve a mudança da substância do pão para a carne real de nosso Senhor, restando apenas a forma. Esta visão não dá um sentido literal, mas implica:Isto se torna (não é) meu corpo. Como aplicado ao cálice, não é de forma alguma literal. Segundo Lucas e Paulo, ao dar o cálice, nosso Senhor disse não, este vinho, mas “este cálice é o novo testamento em meu sangue”. Este ponto de vista interpreta estas palavras:Este vinho (disse nosso Senhor; ‘este cálice’) torna-se meu sangue (nosso Senhor disse ‘o novo testamento em meu sangue’). Nenhum sentido literal do todo é possível. Este ponto de vista levou a grandes abusos:Faz deste Sacramento um sacrifício; torna-o eficaz, qualquer que seja o caráter ou estado do participante; suas tendências têm sido exaltar o clero às custas do povo, exaltar o Sacramento às custas da palavra de Deus, exaltar formas às custas da moralidade.
(b) A visão luterana (comumente chamada de consubstanciação). Esta declara que o corpo de Cristo está presente no, com e sob o pão. Ela procura evitar os erros da doutrina romana, e ainda preservar um sentido literal, interpretando as palavras de nosso Senhor:”Isto é (em certo sentido e parcialmente, mas não exclusivamente) meu corpo”. Claro que isto não é literal, e envolve a figura de sinédoque, a dificuldade filosófica adicional de duas substâncias ocupando o mesmo espaço ao mesmo tempo, e a onipresença do corpo de Cristo.
(2) O sentido figurativo ou simbólico. “Isto significa o meu corpo”. Esta visão implica que o pão e o vinho permanecem pão e vinho, tanto em substância quanto em forma. Comp. 1Corintios 11:26-28, onde o pão que é comido é falado três vezes como ‘pão’.
(a) A visão zwingliana:A Ceia do Senhor é um culto memorial, e nada mais. A objeção a este ponto de vista é que ele não esgota a frase como uma figura. Quando Cristo diz:”Eu sou a videira”, “Eu sou a porta”, etc., o objeto inferior usado como figura, tem a ele um sentido espiritual superior. Na Ceia do Senhor, o objeto inferior é feito um sinal contínuo, emblema, símbolo da maior verdade espiritual. As consequências desta visão pobre são mostradas na baixa estima do Sacramento, mesmo como uma cerimônia memorial, que quase invariavelmente foi introduzida.
(b) A visão calvinista. Esta mantém a presença espiritual ou dinâmica de Cristo na Ceia do Senhor opondo-se às interpretações literais, e Sua presença real opondo-se à visão zwingliana.
Ambas as visões figurativas concordam, que aqui onde o pão é o sinal, ele significa:que o corpo de Cristo foi partido por nós (1Coríntios 11:24); que ele foi dado por nós (Luk 22:19); além disso, como o pão é o meio habitual de alimentar a vida natural, assim Cristo alimenta nossa vida espiritual (João 6); a visão calvinista enfatiza o fato de que nós, como participantes do mesmo pão, somos membros do mesmo corpo místico de Cristo (1Coríntios 10:17). Na Páscoa a oferta pelo pecado foi consumida, não no altar, mas como alimento pela família do ofertante. Assim, na Ceia do Senhor, o pão não era apenas um emblema desta carne como “ferido pelos pecados dos homens”, mas também “como administrado por seu alimento espiritual e crescimento na graça” (J. Add. Alexander). A Ceia do Senhor é, portanto, uma festa da união viva dos crentes com Cristo, e uma comunhão dos crentes uns com os outros. Ela significa, e também sela, tal união e comunhão, tornando-se para o coração crente um meio de graça, e para o indigno participante um meio de condenação (1Coríntios 11:27-30). Com isso não se quer dizer que transmita, por si só, graça e condenação, não mais do que no caso da pregação, oração, leitura das Escrituras, canto de Salmos. A linguagem e os sentimentos dos cristãos, quando engajados no culto solene, assumem (assume) tanto quanto isso.
Praticamente todos podem concordar, exceto aqueles que defendem que a Ceia do Senhor é um sacrifício. Esta opinião é contrária à verdade fundamental do evangelho, como se manifesta não apenas por uma comparação com as passagens do Novo Testamento que falam do sacrifício de Cristo como oferecido “uma vez por todas”, mas pelos efeitos prejudiciais da doutrina, conforme mostrado nas deturpações da Igreja Romana. [Schaff]
Comentário Cambridge 🔒
Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.