mas não encontravam, ainda que muitas falsas testemunhas se apresentavam. Mas, por fim, vieram duas falsas testemunhas,
Comentário de J. A. Broadus
ainda que muitas falsas testemunhas se apresentavam. Isso era fácil de se conseguir através dos esforços contínuos dos homens influentes, como vemos em Atos 6:11. Na verdade, eles já estavam há algum tempo procurando por testemunhas (Mateus 26:4 e seguintes). Marcos explica (Marcos 14:56) que “as testemunhas não concordavam entre si”. O Sinédrio não podia se dar ao luxo de ignorar as formas comuns do procedimento judicial, pois suas ações não poderiam ser mantidas em segredo para sempre. A lei expressamente proibia a pena de morte baseada no testemunho de apenas uma pessoa (Números 35:30; Deuteronômio 17:6). Aqui, havia muitas testemunhas, cada uma apresentando uma acusação diferente, mas nenhuma delas concordava em um ponto específico. É inútil especular sobre quais foram os vários e conflitantes testemunhos falsos.
Mas, por fim, vieram duas falsas testemunhas. O texto comum acrescenta “falsas testemunhas”, a partir do versículo anterior. Poderíamos supor que essas duas testemunhas concordaram em seu testemunho, mas Marcos (Marcos 14:59) diz: “e nem assim o testemunho deles era coerente” (NAA), provavelmente querendo dizer que não havia acordo sobre as circunstâncias e termos da alegada declaração para que fosse crível. A Mishná, no tratado “Sanhedrin”, dá diretrizes detalhadas sobre as testemunhas, uma das quais é (“Sanh.,” V., 1) que cada testemunha deve ser questionada com sete perguntas sobre o suposto crime, como: em qual período de sete anos (contando a partir do ano sabático) ocorreu, em que ano do período, em que mês, dia do mês, dia da semana, hora do dia e em qual lugar; e os limites são indicados dentro dos quais duas testemunhas podem discordar em uma ou outra questão, sem invalidar seu testemunho. (Compare Wünsche, ou “O Código Penal dos Judeus”, Londres, 1880). Observe que em Marcos (Marcos 14:58) as testemunhas declaram: “Nós o ouvimos dizer”, com ênfase em “nós”; e assim elas poderiam ser questionadas sobre tempo e lugar. Claro que não sabemos até que ponto essas regras estritas foram realmente observadas dois séculos antes de a Mishná ser escrita. Mas, embora o Sinédrio estivesse decidido a condenar Jesus, por isso mesmo estaria ainda mais cuidadoso em observar as formas costumeiras. Note-se que parece não ter havido pedido de testemunho em defesa de Jesus, embora ele tenha indicado a Anás (João 18:20 e seguintes) que tal testemunho poderia ser facilmente encontrado. As fábulas medievais judaicas tentaram remover essa óbvia injustiça, declarando que arautos proclamaram por quarenta dias, e nenhum testemunho apareceu em defesa de Jesus. Não é necessário dizer que os escritores judeus atualmente não reivindicam respeito por essas fábulas, embora alguns tentem suavizar a culpa do Sinédrio. [Broadus, 1886]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.