Mundo no Antigo Testamento
De modo geral, pode-se dizer que a expressão normal para a concepção do Universo que hebreus tinham é “os céus e a terra” (Gênesis 1:1; Salmo 89:11; 1Crônicas 16:31), e que “mundo” é uma expressão equivalente a “terra.” No que há de diferença, o “mundo” designa, mais propriamente, a terra fértil e habitável, por exemplo: “a terra é do Senhor, e tudo o que nela existe; o mundo e os que nele habitam” (Salmo 24:1; cf. Salmo 50:12; Salmo 90:2; Isaías 34:1). Os sentimentos religiosos despertados pela contemplação da Natureza aparecem também em referências aos céus e ao mar (por exemplo, Salmo 8:1-9; Salmo 19).
Entretanto, a avaliação ética negativa do mundo, tão proeminente em alguns escritos do Novo Testamento, deixa apenas poucos vestígios no Antigo Testamento. No Antigo Testamento, o “mundo” será julgado com justiça (Salmo 9:8; Salmo 96:13; Salmo 98:9) e punido por sua maldade (Isaías 13:11). O caráter transitório das suas riquezas e prazeres, com a consequente insensatez de se apegar a eles, é talvez indicado por outra palavra hebraica (com o significado de “duração”; cf. “æon” abaixo) traduzida como “mundo” no Salmo 17:14 (“homens do mundo, cuja porção está nesta vida”).
Mundo nos Apócrifos
No âmbito ético, o “mundo” não recebe nova ênfase nos Apócrifos, embora no Livro da Sabedoria tanto o interesse científico em relação ao mundo quanto os impulsos da religião natural sejam notavelmente intensificados (Sabedoria 7:17-22; 9:9; 11:17, 22; 13:1-9; cf. Sirácida 17:1-32; 18:1-33). Há um amplo contraste entre a estabilidade dos justos e a vaidade da prosperidade ímpia (por exemplo, Sabedoria 1:1-16; 2:1-24; 3:1-19; 4:1-20; 5:1-23), mas esta última não é identificada com o “mundo.” Nota-se, ainda, que nos Apócrifos a palavra grega kosmos, que na LXX (Septuaginta) significa “ornamento”, alcançou o sentido de “mundo”, concebido como uma ordem bela; no Novo Testamento, esse se torna o termo predominante.