Obediência

Obediência (hebraico: shama ↗; grego: hupakoē ↗).

Significado dos termos

No Antigo Testamento, a palavra “obediência” vem de um verbo que significa “ouvir” ou “escutar”. Contudo, ela carrega um significado ético: ouvir com reverência e aceitar obedientemente.

No Novo Testamento, o significado vai além: “ouvir sob” ou se subordinar à pessoa ou coisa ouvida — ou seja, obedecer. Também aparece outra ideia relacionada: a de ser convencido ou persuadido (peithomai).

Obediência no Antigo Testamento

Em primeiro lugar, a obediência aparece nas relações humanas: (1) entre pessoas — como entre mestre e servo, e especialmente entre pais e filhos: “Se alguém tiver um filho teimoso e rebelde, que não obedece à voz de seu pai ou de sua mãe… então seu pai e sua mãe o levarão aos anciãos da cidade” (Deuteronômio 21:18–19; cf. Provérbios 15:20); (2) entre autoridade e súditos: “Os estrangeiros me obedecerão, ouvindo a minha voz” (2Samuel 22:45; cf. 1Crônicas 29:23).

Mas o significado mais importante do uso da palavra “obediência” está na relação entre o ser humano e Deus. Obedecer é a maior prova de fé em Deus e de reverência a Ele. No Antigo Testamento, a ideia de obediência era essencial. Era a principal relação que não podia ser quebrada. Mesmo que, em alguns momentos, essa relação fosse apenas formal, ainda assim era o laço mais forte que unia o povo a Deus. Samuel expressa bem essa relação espiritual quando pergunta: “Acaso o Senhor tem tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que obedecer é melhor do que sacrificar, e ouvir é melhor do que a gordura de carneiros” (1Samuel 15:22). Sem obediência, não havia como manter uma relação verdadeira com Deus. Isso fica claro quando Deus diz a Abraão: “Na tua descendência serão benditas todas as nações da terra, porque obedeceste à minha voz” (Gênesis 22:18).

Nos livros dos profetas, bênçãos e prosperidade futuras estavam ligadas à obediência: “Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra” (Isaías 1:19). Depois de descrever a glória do Reino do Messias, o profeta diz: “Isso acontecerá, se ouvirdes com dedicação a voz do Senhor, vosso Deus” (Zacarias 6:15). Por outro lado, desobediência e falta de confiança em Yahweh traziam desgraças, sofrimento e fome.

Essa obediência — ou desobediência — estava geralmente ligada aos mandamentos de Yahweh dados na Lei, mas os hebreus também criam que Deus podia dar ordens por outros meios. Veja, por exemplo, a repreensão de Samuel a Saul: “Porque não obedeceste à voz do Senhor… por isso o Senhor fez isso contigo hoje” (1Samuel 28:18).

Obediência no Novo Testamento

No Novo Testamento, estabelece-se uma relação espiritual e moral mais elevada do que no Antigo Testamento. A importância da obediência continua sendo enfatizada. O próprio Cristo é o maior exemplo de obediência. Ele “humilhou-se, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:8). Pela obediência a Ele, somos, por meio d’Ele, feitos participantes da salvação (Hebreus 5:9). Esse ato é a prova suprema da fé em Cristo. De fato, é uma relação tão vital que, em alguns casos, os termos são quase sinônimos. “Obediência da fé” é uma expressão usada por Paulo para transmitir essa ideia (Romanos 1:5). Pedro chama os crentes em Cristo de “filhos da obediência” (1Pedro 1:14).

Ele “humilhou-se, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:8). A crucificação, por Jean Francois Portaels (1886)

Assim, vê-se que a prova de comunhão com Yahweh no Antigo Testamento é a obediência. No Novo Testamento, o vínculo de união com Cristo é a obediência através da fé, pela qual eles se identificam com Ele e o crente se torna um discípulo. [Walter G. Clippinger, Orr, 1915]