Missão dos doze apóstolos
A missão dos Doze (Marcos 6:7; Lucas 9:1). Esta missão serviria a dois propósitos, primeiro, preparar o caminho para as visitas do próprio Jesus, e segundo, treinar os apóstolos para futuro ministério deles. Ele os enviou de “dois em dois” (Marcos 6:7), por uma questão de encorajamento mútuo. Este é o verdadeiro método de empreender o trabalho missionário, como mostra a experiência de Paulo. Os apóstolos deveriam pregar um pouco, mas não muito, desde que eram iniciantes. Eles deviam preparar o caminho para Jesus, dizendo: “O reino dos céus está próximo”. Todos os relatos concordam que eles deveriam fazer milagres em grande escala (poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e curarem toda enfermidade e toda doença). Eles curavam pela unção com óleo (Marcos 6:13): compare com Tiago 5:14. Eles receberam poder até para limparem os leprosos e ressuscitarem mortos (Mateus 10:8). Essa missão começou cerca de cinco semanas antes da segunda Páscoa do ministério de Jesus (Jo 6:4) e durou cerca de um mês. Tendo dispensado os apóstolos, Jesus foi a Jerusalém para celebrar a festa de Jo 5:1, provavelmente Purim, no início de março. Ele então se juntou novamente aos Doze pouco antes da Páscoa: veja em Jo 6:1. [Dummelow, 1909]
apóstolos. A palavra apóstolo significa enviado. É derivada da palavra grega αποστελλω, apostello, que é a palavra usada em Mateus 10:5, e traduzida como “enviou”. [Whedon, 1874]
Tadeu. Ele é o mesmo que o “Judas de Tiago” (Lucas 6:16), e o “Judas (não o Iscariotes)” (Jo 14:22). É suposto que “Tadeu” seja uma forma do nome grego Theudas. Alguns manuscritos trazem “e Lebeu, apelidado de Tadeu”. Lebeu é aramaico e seu significado é desconhecido. A razão para essa inclusão é desconhecida. [Dummelow, 1909]
Simão o zelote. O original grego traz “Simão, o cananeu”. “Cananeu” aqui não significa alguém nativo de Canaã, mas deriva da palavra aramaica Kanean ou Kaneniah, que era o nome de uma seita judaica a qual Simão fazia parte antes do seu apostolado. [Easton, 1896]
Os doze recebem suas instruções
Não ireis pelo caminho dos gentios. A enfática limitação parece, à primeira vista, divergir daquilo que ele havia falado sobre aqueles que viriam do leste e do oeste para se sentar com Abraão, Isaque e Jacó no reino de Deus, e com o fato de que nosso Senhor já tinha levado Seus discípulos para uma cidade de Samaria, e lhes dizer que também lá havia campos brancos para a colheita (Jo 4:35). Devemos lembrar, no entanto, (1) que esta limitação restringia-se à missão para a qual eles foram enviados; (2) que ela não fazia mais do que reconhecer uma ordem divina, a prioridade de Israel no trato de Deus com a humanidade, “primeiramente do judeu, e também do gentio”; e (3) que os próprios discípulos ainda não estavam preparados a entrar numa obra que exigia pensamentos e esperanças mais amplos do que eles ainda haviam alcançado. Era necessário que aprendessem a compartilhar a compaixão de seu Mestre pelas ovelhas perdidas da casa de Israel antes que pudessem fazer parte de Seus anseios pelas ovelhas que “não eram deste aprisco” (Jo 10:16). [Ellicott, 1905]
Comentário de David Brown
Até a morte de Cristo, que derrubou a parede do meio da separação (Efésios 2:14), a comissão do Evangelho era somente para os judeus, que, embora o povo visível de Deus, eram “ovelhas perdidas”, não meramente no sentido que todos os pecadores são (Isaías 53:6; 1Pedro 2:25; compare com Lucas 19:10), mas como abandonados e deixados para vaguear conduzidos por pastores infiéis (Jeremias 50:6,17; Ezequiel 34:2-6, etc.). [Jamieson; Fausset; Brown]
Passagens paralelas: Lucas 9:2 (os doze); 10:9 (os setenta; observe que a substância da proclamação deveria ser a mesma)
proclamai, em voz alta e pública, dizendo: ‘Perto está o Reino dos céus’. O que os homens há tanto tempo desejavam (Mateus 3:2; 4:17) agora estava próximo. [Pulpit, 1897]
recebestes de graça, dai de graça. Isto tem que ser interpretado com a conclusão de Mateus 10:10 (“o trabalhador é digno de seu sustento”). O trabalhador deve ser pago pelo seu trabalho, contudo milagres e dons da graça não devem ser vendidos. [Bengel, 1860]
Não tomeis convosco ouro, nem prata, nem cobre (dinheiro) em vossos cintos (o lugar onde se guardava o dinheiro).
o trabalhador é digno de seu sustento. Nosso Senhor enfatiza o princípio de que a liderança eclesiástica deve ser sustentada financeiramente pela Igreja, e não ser obrigada a trabalhar em uma ocupação secular: veja mais sobre isso 1Coríntios 9:14; 1Timóteo 5:17-18. [Dummelow, 1909]
informai-vos de quem nela seja digno – digno por sua prontidão em receber a oferta do Evangelho e acolher seus ministros. [Whedon, 1874]
E quando entrardes na casa – não significa a casa digna, mas a casa em que entrardes primeiro, para julgar se é digna.
saudai-a – dizendo:“Paz seja nesta casa” (Lucas 10:5).
venha sobre ela a vossa paz. A saudação deles não deveria ser uma mera formalidade. Seria uma verdadeira oração onde quer que as condições de paz fossem cumpridas do outro lado. Na pior das hipóteses, a oração pela paz abençoaria quem a orasse. [Ellicott, 1905]
sacudi o pó de vossos pés – “em testemunho contra eles”, como Marcos e Lucas acrescentam (Marcos 6:11; Lucas 10:11). Através deste ato simbólico eles lançavam de si toda a ligação com tais, e toda responsabilidade pela culpa de rejeitá-los e sua mensagem. Esses atos simbólicos eram comuns nos tempos antigos, mesmo entre os não judeus, como aparece notavelmente em Pilatos (Mateus 27:24). E mesmo hoje acontecem no oriente. [JFU, 1866]
Por que o pecado de Sodoma foi menor? Porque os homens de Sodoma pecaram na ignorância, mas os que rejeitam o evangelho pecam contra a luz.
Direções para o exercício futuro e permanente do ministério cristão
sede prudentes como as serpentes e inofensivos como pombas. As qualidades necessárias para a segurança do viajante desarmado. A prudência e a inofensividade são a defesa dos fracos. “sede prudentes”, precavidos, tendo “sabedoria prática” como a de Paulo quando reivindicou os direitos de cidadão romano em Filipos. A sabedoria de uma serpente é não ser notada. [Cambridge, 1893]
Comentário de David Brown
Porém tende cuidado com as pessoas; porque vos entregarão em tribunais – as cortes locais, usadas aqui para os magistrados civis em geral.
e vos açoitarão em suas sinagogas – por isso se entende a perseguição nas mãos dos líderes religiosos. [Jamieson; Fausset; Brown]
para que haja testemunho a eles (“essa será a oportunidade de falar a meu respeito a eles”, NVT).
e aos gentios. Um indício de que a mensagem deles não ficaria confinada por muito tempo às ovelhas perdidas da casa de Israel. [JFU, 1866]
Comentário de David Brown
Como notavelmente isto foi verificado, toda a história da perseguição proclama de forma emocionante – desde os Atos dos Apóstolos até o último martírio. [Jamieson; Fausset; Brown]
Exemplos reais de cristãos sendo entregues por seus parentes mais próximos são encontrados nos registros dos mártires, contudo a declaração de Cristo deve ser entendida de maneira mais geral como referência à ruptura de todos os laços de parentesco e afeto por conta do evangelho. [Dummelow, 1909]
Comentário de David Brown
E sereis odiados por todos por causa de meu nome. Compare com esse relato de Tácito (56-117 d.C), um historiador romano: “Nero…realizou as mais cruéis torturas em uma classe odiada por suas abominações: os cristãos (como eles eram popularmente chamados). Cristo, de onde o nome teve origem, sofreu a penalidade máxima durante o reinado de Tibério, pelas mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos. Pouco após, essa perversa superstição voltou à tona e não somente na Judeia, onde teve origem, como até em Roma, onde as coisas horrendas e vergonhosas de todas as partes do mundo encontram seu centro e se tornam populares. Em seguida, foram presos aqueles que se declararam culpados, então, com as informações deles extraídas, uma imensa multidão foi condenada, não somente pelo incêndio, mas pelo seu ódio contra a humanidade. Ridicularizações de todos os tipos foram adicionadas às suas mortes. Os cristãos eram cobertos com peles de animais, rasgados por cães e deixados a apodrecer; crucificados; condenados às chamas e queimados para que servissem de iluminação noturna quando a luz do dia já tivesse se extinguido.” [Jamieson; Fausset; Brown]
Quando, então, vos perseguirem. Tais palavras indicam que essas “instruções” têm um alcance muito mais amplo do que a missão imediata dos apóstolos. Elas são proféticas, tanto chamam à atenção como trazem consolo à Igreja de todas as eras.
até que venha o Filho do homem. A passagem em Lucas 21, que é em grande parte paralela a esta, trata da destruição de Jerusalém; e ninguém que examine cuidadosamente as palavras de nosso Senhor pode ignorar que, em um sentido real, Ele veio na destruição de Jerusalém. Esse acontecimento foi, de fato, o julgamento de Cristo que caiu sobre a nação não arrependida. Neste sentido, o Evangelho não tinha sido pregado a todas as cidades de Israel antes da vinda de Cristo. Mas todas essas palavras apontam para um futuro mais distante. O trabalho missionário cristão continua, e continuará até que Cristo venha novamente para um julgamento final. [Cambridge, 1893]
Direções para o serviço de Cristo em seu sentido mais amplo
Esse provérbio foi usado por Jesus em vários contextos diferentes. Aqui significa que os apóstolos não devem esperar que sejam tratados melhor do que foi seu mestre. Em Lucas 6:40, significa que os discípulos de guias espirituais cegos são tão cegos quanto seus mestres. Em Jo 13:16, significa que, já que Jesus lava os pés de outros homens, os discípulos também devem fazer isso. Em Jo 15:20, significa, como em Mateus, que os apóstolos devem esperar as mesmas perseguições que sucederam sobre seu Mestre. [Dummelow, 1909]
se ao chefe da casa chamaram de (Mateus 12:24) Belzebu. Um nome dado a Satanás. Provavelmente o mesmo que Baal-Zebube, o deus de Ecrom, que significa “o senhor das moscas”, ou, como outros pensam, “o senhor do esterco”. [Easton, 1896]
Portanto, não os temais. Uma orientação geral para todos os seguidores de Cristo que são perseguidos. “Não os temais”, pois não podem fazer com você sofra mais do que fizeram Cristo sofrer; e em todas as provações Ele prometeu o mais amplo suporte.
porque nada há encoberto que não se revelará, nada oculto que não se saberá. Deus vê todas as coisas; isto é consolo para os justos e assombro para os ímpios; e “trará a julgamento toda obra, até mesmo tudo o que está encoberto, seja bom ou mal” (Eclesiastes 12:14). [Clarke, 1832]
Não devemos supor que fosse costume do nosso Salvador instruir os apóstolos no meio da noite, ou os ensinar através de sussurros. Aqui, porém, ele usa uma figura de linguagem para transmitir aos seus apóstolos a insignificância da Judeia, onde ele estava falando, em comparação com o mundo inteiro, o qual eles deveriam instruir; e a discrição dos seus sussurros, em comparação com o som que eles enviariam até os confins da terra.
sobre os telhados. O topo das casas na Palestina eram planos, e muitas pessoas ali se reuniam para conversar. Proclamar, portanto, “sobre os telhados”, é o mesmo que pregar onde há um grande ajuntamento de pessoas (Menochio). [Haydock, 1859]
temei mais aquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno. Deus, cujo poder se estende para além desta vida. Clemente de Roma, em uma provável referência a esta passagem, diz: “Não devemos temer o homem, mas a Deus”. [Cambridge, 1893]
Comentário de David Brown
Mas nem um deles cairá em terra (exausto ou morto) contra a vontade de vosso Pai – “Nenhum deles é esquecido diante de Deus”, como está em Lucas. (Lucas 12:6). [Jamieson; Fausset; Brown]
Veja Lucas 21:18 (e compare com 1Samuel 14:45; Atos 27:34).
Comentário de David Brown
Será que alguma linguagem de tamanha simplicidade foi tão carregada quanto essa? Mas aqui reside muito do encanto e poder dos ensinamentos de nosso Senhor. [Jamieson; Fausset; Brown]
Comentário de David Brown
aquele que me der reconhecimento diante das pessoas – desprezando a vergonha.
também eu o reconhecerei diante de meu Pai, que está nos céus – Não me envergonharei dele, mas o possuirei perante a mais ilustre de todas as assembleias. [Jamieson; Fausset; Brown]
O significado é que, no dia do julgamento, o destino dos homens dependerá da atitude deles em relação a Cristo, e da atitude de Cristo em relação a eles. Isso é outra prova da divindade de Cristo. [Dummelow, 1909]
Não penseis que vim trazer paz à terra. Por causa da minha mansidão e do meu evangelho, vocês poderiam imaginar que enviarei paz, não apenas no espírito, mas objetivamente entre a humanidade. Mas não é assim; minha missão é separar os justos dos ímpios. Minha bondade é atrair para si todo o bem que tem afinidade com ela. E essa afinidade do bem com o bem, e do mal com o mal, produzirá uma divisão, uma contenda, uma espada. Quando o bem avança para um mundo de mal tende a haver guerra. Cada princípio reunirá seus próprios adeptos e seu próprio exército sob sua própria bandeira, e terrível será a luta até que o certo ou o errado, o céu ou o inferno, alcancem a vitória. [Whedon, 1874]
eu vim pôr em discórdia. A palavra grega ocorre apenas aqui no Novo Testamento e é rara em outros lugares. A raiz é a mesma que a da palavra traduzida para “cortar em pedaços”. Aqui a ideia da espada divisora continua (Mateus 10:34). [Cambridge, 1893]
Ainda hoje, homens e mulheres são expulsos de casa por confessarem sua fé em Jesus. Veja esta notícia de um ex-muçulmano que foi agredido, expulso de casa e ameaçado de morte.
Ou seja, acontecerão divisões nas famílias; meus discípulos não devem hesitar em ficar do meu lado, e não com seu pai ou mãe, filho ou filha. A nova vida muda os antigos relacionamentos: tudo é visto agora em referência a Cristo, com quem Seus seguidores estão ligados como mãe, irmãs e irmãos. [Cambridge, 1893]
E quem não toma sua cruz – isto é, aquele que não está disposto a me seguir até o martírio não é digno de mim. A “cruz” está aqui, não para problemas em geral (embora isso esteja incluído), mas para a crucificação literal, a forma mais dolorosa e degradante de martírio. O criminoso condenado era forçado a carregar (tomar) sua cruz para o local da execução. Cristo aqui indica que ele não apenas já sabia que morreria, mas também de que forma seria. [Dummelow, 1909]
Compare com Lucas 17:33, onde o contexto é diferente.
Quem achar sua vida a perderá – isto é, aquele que me nega para salvar a sua vida em tempos de perseguição, a perderá no mundo porvir. Aquele que perde a vida, isto é, pelo martírio, por minha causa, a encontrará no mundo vindouro, ou seja, desfrutará da vida imortal. A passagem também pode ser aplicada à abnegação em geral, pela qual o homem perde sua vida de mundanismo egocêntrico, para encontrá-la novamente ampliada e purificada. [Dummelow, 1909]
Compare com Lucas 10:16.
Quem vos recebe. Aqueles que recebem os representantes de Cristo, os apóstolos e depois deles Seus ministros (isto é, aqueles que creem na mensagem dita em Seu nome), O recebem, e com Ele Seu Pai. [Dummelow, 1909]
O significado é que aqueles que recebem os apóstolos, porque os reconhecem como profetas, homens justos e discípulos, receberão a mesma recompensa que eles, a vida eterna. [Dummelow, 1909]
a um destes pequenos – um afetuosa designação para os próprios apóstolos [e por extensão, os ministros do evangelho]. Mesmo aqueles que apenas ajudam em sua missão, oferecendo-lhes um copo de água fria durante a jornada, serão recompensados: compare com Marcos 9:41.
Alguns entendem que “pequenos” era um título permanente para os alunos dos rabinos, mas falta uma prova clara que sustente isso. [Dummelow, 1909]
Visão geral de Mateus
No evangelho de Mateus, Jesus traz o reino celestial de Deus à terra e, por meio da sua morte e ressurreição, convoca os seus discípulos a viverem um novo estilo de vida. Tenha uma visão geral deste Evangelho através deste breve vídeo (em duas partes) produzido pelo BibleProject.
Parte 1 (9 minutos).
Parte 2 (8 minutos).
Leia também uma introdução ao Evangelho de Mateus.
Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles – fevereiro de 2018.