1 Por que, SENHOR, tu estás longe? Por que te escondes em tempos de angústia?
Por que, SENHOR, tu estás longe? – como se fosse um espectador indiferente à opressão sofrida por teu povo. “Por que” não é uma questão de incredulidade, mas uma queixa de fé, baseada na convicção de que a justiça de Deus não pode permitir que tal anomalia continue.
Por que te escondes em tempos de angústia? Davi faz alusão, em contraste, ao Salmo 9:9, “O Senhor é refúgio para os oprimidos, uma torre segura na hora da adversidade” (NVI). Por que continua um estado de coisas que parece contradizer o caráter do Senhor? [JFU, 1866]
2 Os ímpios, na sua arrogância, perseguem furiosamente o pobre; que sejam apanhados nas ciladas que planejaram.
3 Pois o ímpio se orgulha do desejo de sua alma, e o avarento amaldiçoa e despreza o SENHOR.
e o avarento amaldiçoa e despreza o SENHOR (NAA, A21) – ou então, [o ímpio] bendiz o avarento e despreza o SENHOR (ACF, NVT). O “avarento” aqui é aquele que se apropria do que não é seu por meio da violência, ou então da injustiça; esse tratamento que o ímpio dá aos pobres indica um desprezo a Deus (Salmo 10:13; Isaías 1:4). [Kirkpatrick, 1906]
4 Em sua arrogância, o ímpio não o busca; Deus não existe em todos as seus pensamentos.
Deus não existe em todos as seus pensamentos. Não que os ímpios negassem verbalmente a Deus (ver Salmos 10:11), mas todos os seus planos e atitudes eram uma negação de Seu ser e caráter, como o Juiz que requer ou toma conhecimento do pecado (Tito 1:16). [JFU, 1866]
5 Os seus caminhos são sempre prósperos; muito acima e longe dele estão os seus juízos; a todos os seus adversários ele os trata com desprezo.
muito acima e longe dele estão os seus juízos. Há duas interpretações possíveis: para o salmista, os juízos de Deus parecem estar tão distantes que não são executados sobre o perverso, de modo que ele continua a prosperar; ou então, para o perverso, os juízos de Deus são uma coisa distante e impossível de acontecer.
6 Diz em seu coração: 'Jamais serei abalado; de geração em geração não me virá mal algum'.
de geração em geração não me virá mal algum – ou seja, nenhuma desgraça atingirá a minha descendência (NVI, A21); ou então, a desgraça nunca virá sobre mim (NVT, ACF).
7 Sua boca está cheia de maldição, enganos e ameaças; debaixo da sua língua há maldade e perversidade.
debaixo da sua língua há maldade e perversidade. A metáfora vem das serpentes, cujo veneno está escondido em pequenas bolsas sob os dentes, e dali é expelido conforme a sua vontade (Salmo 140:3). Em vez de dizer, sobre a sua língua, o salmista diz “debaixo” dela, para sugerir que o próspero pecador tem todo um depósito do mal “debaixo da sua língua”, de onde, conforme a necessidade, ele tira um parte, para colocar sobre sua língua ao falar. Consequentemente, diz-se que a boca do pecador está “cheia de maldição”. [JFU, 1866]
8 Põe-se de emboscada próximo a povoados, em esconderijos mata o inocente; seus olhos espreitam o desamparado.
seus olhos espreitam o desamparado – ou seja, “está sempre à procura de vítimas indefesas” (NVT).
9 Ele arma ciladas no esconderijo, como o leão em seu covil; arma ciladas para apanhar o miserável: ele o apanha e o arrasta com sua rede.
10 Ele se encolhe, se agacha, para que os pobres caiam em seu poder.
Ele se encolhe, se agacha, para que os pobres caiam em seu poder (NAA, NVI, ACF) – ou então, “As vítimas indefesas são esmagadas; caem sob a força do perverso” (NVT).
11 Ele diz em seu coração: 'Deus se esqueceu; escondeu o seu rosto, nunca verá isto'.
Deus se esqueceu. Este é o erro comum dos perversos. Visto que o julgamento de Deus não ocorre imediatamente após o crime, eles são levados a dizer: “Deus escondeu o seu rosto”, ele não sabe nada do que esta acontecendo. Compare com Salmo 10:13; 73:11; Ezequiel 8:12. [Whedon, 1874]
12 Levanta-te, SENHOR Deus, ergue tua mão; não te esqueças dos miseráveis.
ergue tua mão – para reivindicar o teu povo e ferir os ímpios (Miqueias 5:9; Êxodo 7:5; Isaías 5:25). A imagem é de alguém que estava com a mão parada no peito, na dobra da túnica oriental, e que a ergue a fim de agir. [JFU, 1866]
13 Por que o perverso blasfema contra Deus, dizendo no seu intimo que tu não lhe pedirás contas?
14 Tu, porém, tens visto isso, pois tu olhas para o sofrimento e a dor, para os tomares na tua mão. A ti é que o desamparado se entrega; tu tens sido o auxílio do órfão.
tu tens sido o auxílio do órfão – isto é, este é o caráter geral de Deus – o caráter no qual ele se revelou ao homem. Compare com Êxodo 22:22; Deuteronômio 10:18; Isaías 1:17; Salmo 68:5; 82:3; Jeremias 49:11; Oséias 14:3; Malaquias 3:5; Tiago 1:27. O salmista aqui se refere ao caráter geral de Deus como aquele em que todos os oprimidos, esmagados e desamparados podem confiar; e ele menciona este caso particular como aquele que melhor ilustra esse caráter. [Barnes, 1870]
15 Quebra o braço do perverso e do maligno; pede contas da sua maldade, até não encontrar mais nada.
Quebra o braço do perverso e do maligno – ou seja, “acaba com a sua força; tire a sua capacidade de fazer o mal aos outros” (Pulpit, 1895).
pede contas da sua maldade, até não encontrar mais nada (NVI, A21, ACF) – ou então, “pede contas da sua maldade, até que a descubras de todo“ (NAA).
16 O SENHOR é Rei eterno; da sua terra somem as nações.
A sentença “da sua terra somem as nações” foi explicada de várias maneiras como referindo-se (1) ao passado ou (2) ao futuro (profético perfeito). Se (1) se refere ao passado, o salmista encontra a garantia para o cumprimento de suas orações e esperanças no extermínio dos cananeus, ou então na destruição das “nações” mencionadas no Salmo 9:5-6,15. Como as nações já foram expulsas perante o povo de Deus, os ímpios devem finalmente dar lugar aos piedosos, e a terra de Javé se tornará de fato o que é em nome, a Terra Santa. Compare com frequentes os avisos a Israel de que o destino dos cananeus poderia ser o deles (Deuteronômio 8:19-20, etc.). Se (2) a sentença se refere ao futuro, é uma antecipação confiante (expressa como se já tivesse sido realizada) da destruição final dos opressores estrangeiros de Israel, incluindo, pode-se supor, todos os ímpios de quem eles são tipos.
A primeira explicação se ajusta melhor ao contexto. A queixa e oração do salmo são dirigidas contra opressores perversos dentro da nação de Israel, não contra inimigos estrangeiros. A antecipação da destruição de tais inimigos externos é estranha à linha de pensamento. Mas existe um apelo à história como base de esperança para o futuro. [Kirkpatrick, 1906]
17 SENHOR, tu ouviste o desejo dos necessitados; tu fortalecerás os seus corações, e teus ouvidos os ouvirão;
18 para fazer justiça ao órfão e ao afligido, a fim de que o homem, que é da terra, não sirva mais de terror.
para fazer justiça ao órfão – isto é, para reivindicar o órfão; para resgatá-lo das mãos daqueles que o oprimiriam e praticariam injustiça contra ele. Em outras palavras, o salmista ora para que Deus se manifeste no seu verdadeiro e próprio carácter como aquele que defende os órfãos (veja a nota no Salmo 10:14), ou daqueles que são representados pelos “órfãos” – os fracos e desamparados. [Barnes, 1870]
Autor e ocasião. Este salmo, como o Salmo 1, o 2, e muitos outros, não tem título para indicar sua autoria; nem há nada no próprio salmo que possa nos habilitar a determinar isso com alguma certeza. Julgando pelo lugar que ocupa entre os reconhecidos Salmos de Davi, é certo que foi considerado por aqueles que organizaram o Livro dos Salmos como tendo sido composto por ele. Não há nada no salmo que proíba essa suposição.
É claro que nada se sabe sobre a ocasião em que foi composto. Na Septuaginta e na Vulgata Latina, Salmo 9 e Salmo 10 são unidos e considerados como Salmo 9; e daí em diante a contagem continua de acordo com esse arranjo, o décimo primeiro no hebraico sendo numerado nessas versões como o décimo, etc. Esse arranjo continua até o Salmo 113:1-9 (inclusive). Nessas versões, Salmos 114:1-8 e Salmo 115 do hebraico formam apenas um salmo, e a contagem coincide. Mas o Salmo 116 em hebraico é, nessas versões, dividido em dois, e o Salmo 147 em hebraico é, nessas versões, dividido em dois, completando assim o número de 150 salmos – tornando o número no hebraico e na Vulgata latina, e a Septuaginta, o mesmo. Não se sabe agora por quem essas divisões foram feitas, ou sob que pretexto foram feitas. Não há nenhuma razão conhecida para fazer as divisões dos Salmos que ocorrem na Septuaginta e na Vulgata Latina.
Não há nenhuma evidência, portanto, de que este salmo foi composto ao mesmo tempo e na mesma ocasião, como Salmo 9, e não há nada no próprio salmo que levasse necessariamente a esta suposição. É tão independente disso em sua estrutura quanto um salmo geralmente é de outro.
Até onde pode ser obtido do próprio salmo, ele foi composto como o anterior, e como muitos outros, quando o escritor estava no meio de problemas; e quando, na época, ele parecia ter sido abandonado por Deus (Salmo 10:1). A natureza desse problema é até o momento indicada para mostrar que ele surgiu da conduta de algum grande inimigo, alguém que era perverso, alguém que estava seguindo um caminho secreto e desleal, um caminho obscuro e traiçoeiro, para destruir a reputação ou a vida do autor do salmo. Nestas circunstâncias, o escritor pede a Deus que intervenha por ele. Nada é indicado, no entanto, pelo qual se possa saber quem era esse inimigo, ou em que ocasião, na vida de Davi, o salmo foi composto. Basta acrescentar que houve várias ocasiões na vida de Davi que corresponderam ao que é dito no salmo, e que não é necessário entender a ocasião particular mais claramente para ver o significado do salmo.
Conteúdo. O salmo é devidamente dividido em duas partes.
A primeira contém um relato do caráter do inimigo a quem o escritor se refere (Salmo 10:1-11); a segunda é um apelo a Deus para intervir e libertá-lo das tramas deste inimigo (Salmo 10:12-18).
(1) As características do inimigo (Salmo 10:1-11). Essas características eram as seguintes:
(a) Ele era orgulhoso, e por causa disso perseguiu os pobres (Salmo 10:2).
(b) Ele era um vanglorioso, e especialmente, ao que parece, era alguém que estava disposto a se gabar de sua riqueza (Salmo 10:3).
(c) Ele era um ateu prático; alguém muito orgulhoso para buscar a Deus, ou para reconhecer sua dependência a Ele (Salmo 10:4).
(d) Seus caminhos sempre foram causadores de aflição, ou ajustados para produzir o mal, e a razão era que ele não tinha pontos de vista justos sobre assuntos mortais – que os grandes princípios da verdade e do direito estavam “muito longe de sua vista” (Salmo 10:5)
(e) Ele era um homem que não tinha preocupações sobre o futuro; alguém que sentiu que seu caminho seria de prosperidade contínua, e que a adversidade nunca viria sobre ele (Salmo 10:6).
(f) Ele era profano e abertamente fraudulento (Salmo 10:7).
(g) Ele era traiçoeiro, astuto e dissimulado em suas ações; um homem que se rebaixaria a qualquer ato de falsidade e traição para cumprir seus propósitos (Salmo 10:8-10).
(h) E ele agiu como se Deus tivesse “esquecido”, isto é, como se Deus fosse ignorar as ofensas; como se Ele não as visse ou as considerasse (Salmo 10:11).
(2) Um apelo a Deus para livrá-lo das tramas deste inimigo (Salmo 10:12-18). Este apelo consiste nas seguintes partes:
(a) Um discurso solene a Deus, suplicando-lhe que se lembre do clamor do humilde ou do aflito (Salmo 10:12).
(b) Argumentos para fazer cumprir este apelo, ou razões pelas quais Deus deveria intervir (Salmo 10:13-15). Esses argumentos são:
1. Que ele tinha visto tudo isso; que o esforço do perverso para ocultar o que fizera foi em vão; e
2. que os pobres e aflitos se comprometeram com Deus com a firme confiança de que ele protegeria aqueles que confiavam nele.
(c) A expressão de uma convicção solene e plena por parte do escritor do salmo de que Deus interferiria assim, e salvaria aqueles que colocassem sua confiança nEle (Salmo 10:16-18). [Barnes]
Visão geral de Salmos
“O livro dos Salmos foi projetado para ser o livro de orações do povo de Deus enquanto esperam o Messias e seu reino vindouro”. Tenha uma visão geral deste livro através de um breve vídeo produzido pelo BibleProject. (9 minutos)
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