Irmãos. A força desta palavra de apelo (assim como a conexão geral) é enfraquecida pela divisão da Epístola em capítulos. O capítulo anterior termina com um aviso contra provocação e inveja — pecados totalmente inconsistentes com a fraternidade cristã. Somos lembrados do protesto de Moisés: “Homens, vós sois irmãos, por que fazeis mal um ao outro?” (Atos 7:26). A linha de pensamento parece ser: “Eu condenei o espírito e a conduta não-cristã que vocês demonstram nos casos em que é possível que estejam enganados quanto à gravidade ou à realidade da falha que vocês atacam. Vou mais longe. Suponhamos que um homem seja descoberto em uma clara violação da lei de Deus, um pecado “evidente” (Gálatas 5:19): nem assim estão justificados em tentar oprimir o transgressor. Ele é vosso irmão. Vocês compartilham sua natureza caída; vocês estão expostos às mesmas tentações que ele. Que este pensamento conduza a prática de um espírito de mansidão, e procure restaurar tal pessoa, reparar a sua culpa, recuperá-la para a posição que tinha perdido”. [Cambridge, 1896]
assim cumprireis (por completo) a lei de Cristo – ou seja, “amar” é o que cumpre toda a lei (Gálatas 5:14). Já que vocês desejam “a lei”, então cumpram a lei de Cristo, não composta de várias observâncias: seu único fardo é o “amor” (Jo 13:34; 15:12); Romanos 15:3 dá Cristo como exemplo. [JFU, 1866]
Vaidade pessoal, o principal obstáculo à paciência e à simpatia para com nossos semelhantes, deve ser posta de lado.
se alguém pensa ser alguma coisa – possuindo alguma preeminência espiritual e estando isento da fragilidade de outros homens.
engana a si mesmo – literalmente, “ele engana mentalmente a si mesmo”. Testar suas próprias ações, e julgar segundo elas, não por sua imaginação mental, é o remédio (compare com Tiago 1:26). [JFU, 1866]
examine a sua própria obra – ou então, “teste a sua própria conduta”. O auto-exame conduzirá a uma verdadeira avaliação de si mesmo, averiguada por comparação, não com as realizações dos outros, mas com os requisitos da lei de Cristo. O resultado pode ser humilhação e vergonha; mas o motivo da vanglória não será o do fariseu: “Deus, eu te dou graças por não ser como os outros homens”, mas o daquele outro fariseu: “Pela graça de Deus eu sou o que sou” (1Coríntios 15:10). [Cambridge, 1896]
Este é a razão pela qual um homem não tem motivo para reivindicar superioridade em relação ao seu próximo (Gálatas 6:4b). POIS cada um tem o seu próprio fardo – a saber, de fraqueza. Este versículo não contradiz Gálatas 6:2. Lá, ele lhes diz que suportem os “fardos” dos outros em tolerante compaixão; aqui, este auto-exame fará com que o homem sinta que tem o suficiente para prestar contas de “seu próprio fardo” de pecado, sem se comparar orgulhosamente com o próximo (compare com Gálatas 6:3). Em vez de “pensar ser alguma coisa”, ele sentirá o seu próprio “fardo” de pecado: isto o levará a suportar com simpatia o peso da fraqueza do próximo. AEsop diz que um homem carrega dois sacos sobre o ombro; o que tem os seus próprios pecados atrás, o que tem os pecados do seu próximo na frente. [JFU, 1866]
A partir da menção de carregar os fardos uns dos outros, ele passa a uma maneira pela qual esses fardos podem ser suportados – servindo por meio dos bens terrenos a seus mestres espirituais. O “mas” no grego, que inicia este versículo, expressa isto, Eu disse, “cada um levará o seu próprio fardo”; MAS não é minha intenção que não pensem nos outros, especialmente nas necessidades de seus ministros”.
todas as boas coisas – todo tipo de coisas boas desta vida, conforme a necessidade (Romanos 15:27; 1Coríntios 9:11, 1Coríntios 9:14). [JFU, 1866]
Deus não se deixa escarnecer. Deus não se deixa levar por palavras vazias: Ele julgará de acordo com as obras, que são sementes semeadas para uma eternidade de alegria ou tristeza. As desculpas para falta de generosidade na causa de Deus (Gálatas 6:6) parecem válidas diante dos homens, mas não o são diante de Deus (Salmo 50:21).
semear – especialmente de seus recursos (2Coríntios 9:6).
colherá. Na colheita, o fim do mundo (Mateus 13:39). [JFU, 1866]
Pois quem semear para a sua carne, a fim de satisfazer seus desejos. Ele não diz, “seu espírito”, como ele faz, “sua carne”. Pois em nós mesmos não somos espirituais, mas carnais. A carne é essencialmente egoísta.
degradação – isto é, destruição (Filipenses 3:19). Compare com Romanos 8:21. O uso do termo “degradação” implica que a destruição não é uma punição arbitrária da mentalidade carnal, mas é seu fruto natural: a carne corrupta produzindo degradação, outra palavra para destruição: degradação é a culpa, e degradação o castigo (ver em Romanos 6:21-22; 1Coríntios 3:17; 2Pedro 2:12). A vida futura apenas expande a semente semeada aqui. Os homens não podem zombar de Deus porque podem enganar a si mesmos. Aqueles que semeiam o joio não podem colher trigo. Só colhem vida eterna os que semeiam para o Espírito (Salmo 126:6; Provérbios 11:18; Provérbios 22:8; Oséias 8:7; Oséias 10:12; Lucas 16:25; Romanos 8:11; Tiago 5:7). [JFU, 1866]
no tempo devido – no tempo de Deus (1Timóteo 6:15).
aos familiares da fé. Todo homem correto faz bem à sua própria família (1Timóteo 5:8); assim os crentes devem fazer à família da fé – isto é, aqueles que a fé fez membros da “família de Deus” (Efésios 2:19; 1Timóteo 3:15; 1Pedro 4:17). [JFU, 1866]
Segundo Jerônimo, Paulo escreveu em letras grandes por causa da sua fraca visão (Gálatas 4:15). Todos os manuscritos mais antigos são escritos em uncial – ou seja, letras maiúsculas; os de letras cursivas, ou minúsculas, são de datas mais recentes. Paulo parece ter tido dificuldade em escrever, o que o levou a fazer as letras unciais maiores do que os escritores comuns. A menção destas é como um símbolo pelo qual eles saberiam que ele escreveu a Epístola inteira com suas próprias mãos; como ele também fez a epístola pastoral, que a esta epístola se assemelha em estilo. Paulo geralmente ditava suas epístolas a um amanuense, exceto a saudação de conclusão, que ele próprio escrevia (Romanos 16:22; 1Coríntios 16:21). Esta carta ele escreveu com sua própria mão, a fim de que os gálatas pudessem ver a consideração que ele teve por eles, em contraste com os mestres judaizantes (Gálatas 6:12), que buscavam apenas seu próprio benefício. [JFU, 1866]
Contraste entre seu zelo em favor deles, implícito em Gálatas 6:11, e o zelo por si mesmos dos judaizantes.
que querem mostrar boa aparência (2Coríntios 5:12) na carne – nas coisas externas.
somente para não serem perseguidos. Eles escaparam da amargura dos judeus contra o cristianismo, e da ofensa da cruz de Cristo, fazendo da lei mosaica uma preliminar necessária; de fato, tornando os cristãos convertidos em prosélitos judeus.
por causa da cruz de Cristo. Por pregar a doutrina da cruz. [JFU, 1866]
Eles arbitrariamente escolheram a circuncisão dentre toda a lei, como se a observância dela compensasse a sua não-observância do resto.
para se orgulharem de vossa carne – isto é, na mudança externa (oposta à interior, feita pelo ESPÍRITO) que eles efetuam em vos trazer para o partido judeu-cristão deles. [JFU, 1866]
Paulo contrasta seu próprio espírito com o que seus oponentes manifestam. Eles são motivados por desejos egoístas de se gloriarem sobre a carne dos outros; ele se gloriará apenas no triunfo da cruz sobre sua própria carne, por meio do qual o poder do mundo sobre ele e seu amor carnal pelo mundo são eliminados. [Expositor, 1897]
Eu faço a cruz tudo; porque a circuncisão não é nada, assim como a incircuncisão. A incircuncisão não é condição de salvação, mas uma nova criatura, ou melhor, criação; uma renovação por meio de Cristo. [Whedon, 1874]
E todos. Em contraste com “Todos” em Gálatas 6:12.
paz – de Deus (Efésios 2:14-17; Efésios 6:23).
misericórdia (Romanos 15:9).
Israel de Deus – não o Israel segunda a carne (1Coríntios 10:18), entre os quais esses mestres desejam incorporar vocês; mas a semente espiritual de Abraão pela fé (Gálatas 3:9; Gálatas 3:29; Romanos 2:28; Romanos 2:29; Filipenses 3:3). [JFU, 1866]
ninguém me perturbe – opondo-se, por legalismo ou licenciosidade, à minha autoridade apostólica, pois está seguramente selada pelas marcas de Jesus que trago no meu corpo, em contraste com os mestres judaizantes que se glorificam na carne.
as marcas – feitas nos escravos para indicar seus donos. Assim as cicatrizes de Paulo, recebidas por Cristo, indicam a quem ele pertence (2Coríntios 11:23-25). Os mestres judaizantes se gloriavam na marca da circuncisão na carne de seus seguidores; Paulo se gloria nas marcas do sofrimento por Cristo em seu próprio corpo (compare Gálatas 6:14; Filipenses 3:10; Colossenses 1:24). [JFU, 1866]
irmãos. No grego esta palavra é a última do versículo e da epístola. “Assim”, diz Bengel, Paulo “ele suaviza com esta palavra final a severidade de toda a epístola”. Ele se despede deles como irmãos; se eles realmente permaneceram irmãos, a história não revela.[Whedon, 1874]
Visão geral de Gálatas
Na carta aos Gálatas, “Paulo desafia os cristãos daquela região a não permitirem que as controversas observâncias da Torá continuem dividindo aquela igreja”. Para uma visão geral desta carta, assista ao breve vídeo abaixo produzido pelo BibleProject. (10 minutos)
Leia também uma introdução à Epístola aos Gálatas.
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