Jó 2:9

Então sua mulher lhe disse: Ainda manténs a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.

Comentário Whedon

sua mulher. Há uma velha tradição entre os judeus, que também aparece no Chaldee Paraphrast, que a sua esposa era Dinah, a frágil filha de Jacó. Isto só tem valor como prova de uma crença antiga de que Jó viveu na era patriarcal. Esta mulher infeliz, que não tinha a fé viva do seu marido, e que, talvez, não acreditava no seu Deus, tem sido amargamente denunciada em todas as épocas, e tem apontado a muitos um epigrama pungente desde os tempos dos Altos Alemães até Coleridge. “Porquê”, pergunta Chrysostom, “será que o diabo o deixou esta esposa? Porque ele achava-a um bom flagelo, pelo qual o atormentava mais do que por qualquer outro”. Agostinho chama-lhe “ajudante do diabo”; Ebrard, “uma ferramenta do tentador”; Spanheim, “um segundo Xantippe”; Calvin, (citado por Delitzsch,) “Proserpina, uma fúria infernal”; e J.D. Michaelis pensa que só ela ficou para Jó, para que a medida dos seus sofrimentos pudesse ser plena. Entre outros. Kitto (Daily Bib. Illus.) e Hengstenberg tiveram uma visão mais simpática da mulher, que outros parecem ter esquecido, era uma sofredora que tinha sido tão terrivelmente enlutada como a própria Raquel. (Jeremias 31:15.) “Há que ter em consideração que o seu desespero estava enraizado no amor mais cordial e terno ao seu marido. Em todas as suas perdas anteriores, ela tinha-se deixado conter pela própria submissão de Jó, e se as dores da doença se tivessem produzido, ela provavelmente ainda teria resistido ao seu desespero”. – HENGST., Lec. sobre Jó. Era um pensamento favorito dos pais que, como Satanás tinha empregado com sucesso a mulher para a ruína do homem no Paraíso, ele sente-se seguro do sucesso nesta, a sua última aposta, pois empunha o mesmo instrumento contra Jó nas cinzas. Os elementos morais das duas tentações eram semelhantes um ao outro. Houve o naufrágio anterior do coração da mulher, juntamente com a influência sutil do afecto do homem, bem como a influência contagiosa do exemplo malévolo; tudo isto constituía, unido, uma tentação de poder inestimável.

Amaldiçoa a Deus, e morre. (Ver Job 1:5.) Ela evidentemente alude ao que Jó tinha dito, (Job 1:21,) e, estranhamente, emprega as próprias palavras que o tentador esperava que Jó usasse enquanto se afundava no desespero. Por Ewald, entre outros, a expressão é tomada como irónica, “diz adeus a Deus, e morre”; por outros (Rosenmuller, Hirtzel) como uma exigência insolente e desafiadora, “Renuncia a Deus, e morre”. Schultens suspeita que tenha sido um ditado comum entre os adoradores da Divindade daquele dia, como o do latim, “Come, bebe: amanhã morremos”. Dizia praticamente: “A religião não tem importância”. Tais sentimentos prevalecem sob as visitas da peste e das calamidades semelhantes. Tucídides moraliza-se assim sobre a peste em Atenas: “Os homens não foram restringidos nem pelo medo dos deuses nem pela lei humana; considerando tudo isto um só, quer pagassem ou não o culto religioso, uma vez que viram que todos pereceram de igual modo”. A mulher de Jó é agora varrida para um turbilhão semelhante. A Septuaginta informa-nos “que já passou muito tempo” quando proferiu estas palavras provocadoras, “Maldito seja Deus, e morre”; e, descontente com a ideia de que uma mulher zangada deve dizer tão pouco, põe um longo discurso na sua boca, recontando os seus sofrimentos, e fecha com as palavras, “mas diz alguma palavra contra o Senhor, e morre”. [Whedon]

< Jó 2:8 Jó 2:10 >

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.