O calendário hebraico ou judaico teve três estágios de desenvolvimento: o pré-exílico, ou bíblico; o pós-exílico, ou talmúdico; e o pós-talmúdico. O primeiro baseava-se apenas na observação, o segundo na observação associada ao cálculo, e o terceiro apenas no cálculo. No primeiro período, os sacerdotes determinavam o início de cada mês pela aparição da lua nova e a recorrência das festas prescritas dos equinócios vernal e outonal. Assim, o mês de Abibe, o primeiro mês do ano de acordo com a lei levítica, no qual a Páscoa deveria ser celebrada, era determinado por observação (Êxodo 12:2; Êxodo 12:16). Após o exílio, métodos mais precisos de determinar os meses e as estações tornaram-se comuns, e o cálculo foi empregado para complementar e corrigir as observações, e o calendário foi regulado de acordo com o sistema babilônico, como evidenciado pelos nomes dos meses, que são derivados dele. Mais tarde, o calendário foi fixado por métodos matemáticos. A dificuldade de determinar o primeiro dia da lua nova por observação, no período inicial, levou à celebração de dois dias, como parece ser indicado em 1Samuel 20:27. Temos apenas quatro nomes de meses pertencentes ao período pré-exílico, e são fenícios. Destes, Abibe era o primeiro mês, como já indicado, e correspondia a Nis (nisã) no calendário posterior. Era o mês em que ocorreu o Êxodo e o mês da Páscoa (Êxodo 13:4; Êxodo 23:15; Êxodo 34:18; Deuteronômio 16:1).
O segundo mês deste calendário era Zive (ziw) (1Reis 6:1; 1Reis 6:37); Etanim (‘ethanim) era o sétimo (1Reis 8:2), correspondendo a Tisri do calendário posterior, e Bul (bul) o oitavo, correspondia a Marquesvã (marcheshwan) (1Reis 6:38). Existiam outros nomes de meses neste antigo calendário, mas não chegaram até nós. Esses nomes se referem aos aspectos das estações: assim, Abibe significa grão na espiga, apenas amadurecendo (Levítico 2:14; Êxodo 9:31); Zive (ziw) refere-se à beleza e esplendor das flores na primavera; Etanim (‘ethanim) significa perene, provavelmente referindo-se a fontes vivas; e Bul (bul) significa chuva ou aguaceiros, sendo o mês quando a estação chuvosa começava. Há nome de meses que não são encontrados na Bíblia, pois os meses geralmente são referidos pelo número, mas encontramos Nisã em Neemias 2:1 e Ester 3:7; Sivã Ester 8:9; Tamuz em Ezequiel 8:4, embora o termo aqui usado se refira a uma divindade fenícia que deu nome ao mês; ‘Elul ocorre em Neemias 6:15; Quisleu em Neemias 1:1 e Zacarias 7:1; Tebete em Ester 2:16; Sebate em Zacarias 1:7 e Adar em Esdras 6:15 e várias vezes em Ester. Esses meses eram lunares e começavam com a lua nova, mas sua posição em relação às estações variava um pouco por causa do mês intercalar a cada três anos.
O ano (shanah) originalmente começava no outono, como aparece em Êxodo 23:16 e Êxodo 34:22, onde é declarado que a festa dos Tabernáculos deveria ser no fim do ano; o ano sabático começava, também, no 7º mês do ano calendário (Levítico 25:8-10), indicando que este havia sido o início do ano. Parece que isso foi um cálculo para fins civis, enquanto o ano começando com Nisã era para fins rituais e sagrados. Isso resultou do fato de que a grande festa da Páscoa ocorria neste mês e as outras festas eram reguladas por esta, como vemos em passagens como Êxodo 23:14-16 e Deuteronômio 16:1-17. Josefo (Ant., I, iii, 3) diz: “Moisés estabeleceu que Nisã, que é o mesmo que Xantico, deveria ser o primeiro mês de suas festas, porque ele os tirou do Egito naquele mês; para que este mês começasse o ano quanto a todas as solenidades que observavam para honra de Deus, embora ele preservasse a ordem original dos meses quanto à compra e venda e outros assuntos ordinários”.
O ano era composto de 12 ou 13 meses, conforme fosse um ano comum ou bissexto. A intercalação não é mencionada na Escritura, mas era empregada para fazer o lunar corresponder aproximadamente ao ano solar, um mês sendo adicionado sempre que a discrepância das estações o tornava necessário. Isso era regulado pelos sacerdotes, que tinham que garantir que as festas fossem devidamente observadas na estação apropriada. O mês intercalar era adicionado após o mês de Adar e era chamado de segundo Adar (sheni, wa-‘adhar, “e Adar”), e, como já indicado, era adicionado cerca de uma vez a cada 3 anos. Mais exatamente, 4 anos de cada 11 eram anos bissextos de 13 meses, isso sendo derivado do calendário babilônico. Se, no dia 16 do mês de Nisã, o sol não tivesse alcançado o equinócio vernal, esse mês seria declarado como o segundo Adar e o seguinte Nisã. Este método, é claro, não era exato e por volta do século IV de nossa era o método matemático foi adotado. O número de dias em cada mês era fixo, sete tendo 30 dias, e o restante 29. Quando o mês intercalar era adicionado, o primeiro Adar tinha 30 e o segundo 29 dias. [H. Porter, Orr, 1915]