O que foi, isso será; e o que se fez, isso será feito; de modo que nada há de novo abaixo do sol.
Comentário Hengstenberg
Apesar de todas as fantasias e ilusões a respeito de coisas novas e gloriosas que os homens trazem à tona, ela é agora como era antigamente. “O que é feito” é aqui considerado em seus resultados, e está consequentemente intimamente ligado ao que é. O ser (Seyn) continua sempre o que era de outrora: consequentemente os resultados do fazer, da ação, não podem mostrar nenhuma diferença muito importante. Porque o velho era mau, é um grande mal que não há nada de novo sob o sol. Não há outra alternativa a não ser recorrer sempre às palavras: “Maldito é o chão para o teu bem”. O homem não pode escapar do círculo amaldiçoado no qual foi conduzido pela sentença pronunciada em Gênesis 3, sejam seus esforços o que forem. Todo o progresso não é mais do que um show vaidoso e um verniz fraco. Por exemplo, o velho pacto, “morrerás”, ainda mantém sua força, não obstante todo o progresso que foi feito na técnica de cura. Lutero observa, “se entendermos estas palavras das obras de Deus, elas não são verdadeiras: pois Deus trabalha e produz sempre algo novo: são apenas os homens e os filhos de Adão que não realizam nada de novo”. Isto está perfeitamente bem fundamentado. Temos aqui a ver com a Filosofia Negativa, que busca a natureza das coisas à parte de Deus. A intenção do autor é mostrar o que se passa com os assuntos terrenos e humanos considerados em si mesmos, para rasgar pelas raízes as inúmeras ilusões às quais o homem natural tão prontamente se resigna, e pelas quais frustra o propósito do julgamento divino pronunciado em Gênesis 3. A vaidade das coisas terrenas só pode levar os homens a Deus quando é profundamente sentida e compreendida. Por paralelo às palavras, não há nada de novo sob o sol, pode-se fazer referência a Jeremias 31,22, “eis que eu crio uma coisa nova na terra”, e a Isaías 65,17, “eis que eu crio novos céus e uma nova terra, e a primeira não será lembrada nem virá à mente”, (compare 66,22). Em Mateus 19,28, o Senhor promete a regeneração ou a renovação do mundo. De acordo com 2Pedro 3:13, “procuramos novos céus e uma nova terra, onde habita a justiça”. No Apocalipse, capítulo 21:1, João vê um “novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra já passaram”. Aquele que está sentado no trono diz ali, em 2Pedro 3:5, “eis que faço novas todas as coisas”. De acordo com o capítulo 21:2, “a cidade santa, a nova Jerusalém, desce do céu”. No fundo de todas estas passagens está o pressuposto tácito de que “não há nada de novo sob o sol”. A suposição da qual eles partem é que a velha terra é um cenário de vaidade, que todos os esforços para mudá-la, originados e dependentes de seus próprios recursos, são totalmente infrutíferos, e que uma verdadeira alteração não pode ser realizada a partir de baixo, mas apenas a partir de cima. Eles nos confortam também em meio à miséria que é a nossa sorte, pela certeza de que uma renovação vinda de cima, de fato, cumpriu. A nova criação começará no ponto em que a vaidade tomou sua ascensão, mesmo com o homem: “Se algum homem está em Cristo, ele é uma nova criatura, as coisas velhas são passadas, eis que todas as coisas se tornam novas” (2Coríntios 5,17). Daí, a renovação passará para o resto da criação. Nada de novo é feito sob o sol – isto deve servir para fazer descer a elevada imaginação que colheria uvas dos espinhos deste mundo, mas não para desencorajar os amigos do reino de Deus, cujo verdadeiro benefício (scat) não está sob o sol, mas acima dele, e cujo protetor celestial, ao criar sempre coisas novas, fornece materiais para novas canções, (Psa 40:3). [Hengstenberg]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.