Estevão

Estevão é mais conhecido como o protomártir da igreja cristã, iniciando o heroico período de perseguições. Ele merece também ser chamado o primeiro grande apologista do cristianismo, pois foi isso que provocou sua morte como mártir (cerca de 36 ou 37 d.C.).

O apedrejamento de Estevão, por Rambrandt (1625))
O apedrejamento de Estevão, por Rambrandt (1625)

Significado do nome

Estevão, em grego Στέφανος (Stéphanos), é um nome que provavelmente significa “coroa”.

O passado de Estevão

Como seu nome e suas relações na igreja em Jerusalém parecem sugerir (Atos 6:3), ele era um helenista, ou seja, um judeu que falava grego. Assim, ele pertencia àquela classe de judeus que geralmente morava fora da Palestina que, embora distintos dos judeus palestinos ortodoxos por uma visão mais ampla da vida como resultado de uma educação mais liberal, eram judeus […] Nada sabemos sobre sua conversão ao cristianismo, embora haja uma tradição de que ele estava entre os Setenta. Como Estêvão, por sua vida e obra, marca um período de transição no desenvolvimento da igreja cristã primitiva, seu nome está relacionado com um novo ponto importante dentro da própria organização da igreja, a saber, a instituição do ofício dos Sete (Atos 6:1), a quem foi confiada a administração da obra de socorro na igreja de Jerusalém – a fundação do diaconato (Irineu; Cipriano; Haer.). Dos sete homens, todos helenistas, eleitos para este cargo em razão de uma queixa dos cristãos helenistas na igreja de Jerusalém contra os cristãos hebreus, no sentido de que na distribuição de esmolas suas viúvas estavam sendo discriminadas, Estevão, que encabeça a lista, é de longe o mais distinto.

O caráter e atividade de Estevão

Estevão mais do que satisfez os requisitos da função para a qual foi eleito (Atos 6:3); o registro o caracteriza como “um homem cheio de fé e do Espírito Santo” (Atos 6:5), ou seja, de uma fé ardente e de profunda espiritualidade, e sua atividade não se restringia às funções de seu ofício; na verdade, embora nada seja dito sobre a maneira como ele cumpriu os deveres de seu ofício, embora sem dúvida os tenha cumprido fielmente, o registro deixa muito claro que a importância de Estêvão estava em sua atividade como pregador, uma testemunha de Cristo; é esta atividade que lhe deu o lugar que ocupa na história (Atos 22:20). Em si mesmo, isso não é surpreendente, pois na igreja cristã primitiva todo cristão era ao mesmo tempo uma testemunha de Cristo, e a pregação leiga era comum. Os Sete, desde o início, estavam ocupados com um trabalho essencialmente espiritual, como também o diaconato posterior estava envolvido em algo muito diferente da mera organização de caridade. Mas Estêvão era especialmente qualificado para esta elevada obra, tendo sido dotado pelo Espírito Santo com dons apostólicos, não apenas de pregar, mas também de operar milagres (Atos 6:8). Em sua visão mais livre das leis e costumes judaicos, devido a sua concepção mais profunda e melhor compreensão da essência do cristianismo, ele superou até mesmo os apóstolos.

O ensino de Estevão

Estevão rompeu as amarras do Judaísmo, pelas quais os outros apóstolos ainda estavam presos, ao ensinar que o templo e a Lei de Moisés eram evanescentes e que o Cristianismo estava destinado a substituir o Judaísmo (Atos 6:14). Essas visões mais livres de Estevão, embora possivelmente atribuíveis à sua cultura helênica, certamente não eram de origem helenística, pois apenas sua promulgação foi o que o colocou em controvérsia com as sinagogas helenísticas de Jerusalém. Embora o helenista se dispensasse de guardar todos os acréscimos farisaicos à Lei, ele sempre considerou a Lei de Moisés e o templo de Jerusalém tão altamente quanto o judeu palestino. Até Filo caracteriza a Lei de Moisés em distinção das leis de outras nações, como firme, imóvel e imutável, colocando-a no mesmo nível das leis da Natureza. A verdadeira fonte das visões mais livres de Estevão sobre a Lei mosaica e o templo eram os próprios ensinos de Cristo, Estevão mostrou uma compreensão maravilhosamente amadurecida deles, comparada apenas com a de Paulo algum tempo depois. As palavras de Cristo a respeito do templo (Jo 4:20-24; Marcos 13:2) não só levaram Estêvão a ver que a verdadeira adoração a Deus não estava confinada ao templo, mas abriu seus olhos quanto ao caráter puramente formal dessa adoração naquele dia, que, longe de ser uma adoração verdadeira, havia se tornado um mero cerimonialismo (Marcos 7:6), e nas palavras de Cristo (Jo 2:19) ele viu uma sugestão do novo templo que deveria ocupar o lugar do velho. Assim, também sua concepção da natureza transitória da Lei Mosaica pode ser traçada ao ensino de Cristo quanto ao sábado, as leis de purificação, o cumprimento da Lei e dos costumes judaicos da época (Mateus 5:20) e de uma justiça melhor do que a dos fariseus e escribas (Mateus 9:16). Assim como Cristo entrou em controvérsia com fariseus e escribas por causa dessas visões mais livres, e como Sua palavra sobre o templo foi usada para enquadrar a acusação contra Ele em Seu julgamento, assim também no caso de Estêvão. Ele não hesitou em pregar seus pontos de vista, escolhendo as sinagogas helenísticas para esse fim, e logo se envolveu em controvérsias ali. Mas, como diz o registro, seus oponentes “não foram capazes de resistir à sabedoria”, ou seja, melhor compreensão, conhecimento persuasivo, “e o Espírito”, ou seja, a profunda seriedade e espiritualidade “pela qual ele falava” de forma tão convincente (Atos 6:10; Mateus 10:19; Mateus 10:20). Vendo-se vencidos, recorreram ao abominável método de declará-lo um blasfemador e um herege, usando os mesmos meios imundos a que os inimigos de Jesus haviam recorrido, subornando falsas testemunhas para a conspiração, agitando o povo contra ele, apelando para seus preconceitos judeus e para os escribas e anciãos, membros do Sinédrio, e assim, eventualmente, levaram à sua acusação.

A acusação de Estevão perante o Sinédrio

A acusação que fizeram contra Estevão, por meio da apresentação de falsas testemunhas, incluía uma dupla acusação, uma contra sua pessoa, uma acusação de palavras blasfemas contra Moisés que o tornariam também um blasfemador de Deus, e outra contra seus ensinamentos, acusando-o com declarações revolucionárias e radicais sobre o templo e a lei. (compare Marcos 14:58; Marcos 13:2; Marcos 15:29). “Costumes de Moisés” (Atos 6:14) eram as instituições que distinguiam os judeus e que derivavam de Moisés. Por sua referência a “este lugar” e “esses costumes”, Estêvão foi entendido como insinuando a destruição do templo e a mudança da Lei, o cristianismo visando assim não apenas a derrubada da religião dos judeus, mas o próprio fim de sua existência nacional.

A acusação contra a pessoa de Estevão era uma acusação infundada. Não houve blasfêmia da parte de Estêvão, exceto pela deturpação de suas palavras. A acusação contra seu ensino era falsa e verdadeira. Era falso como uma insinuação implícita de que ele contestava a origem divina e o caráter do templo e a Lei Mosaica, mas era verdade, na medida em que ele concebeu ambos como sendo apenas de natureza temporária e servindo a um propósito meramente provisório, que, como como vimos, constituiu a peculiaridade de seu ensino. Como no julgamento de Cristo, o juiz, Pôncio Pilatos, leu seu veredicto verdadeiro: “Não encontro culpa nele”, escrito em Seu semblante e em toda sua postura, portanto, aqui o registro nos diz que os juízes de Estevão, “Todos os que estavam sentados…viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo” (Atos 6:15, NAA; 2Coríntios 3:18); como se em refutação da acusação feita contra ele, Estêvão recebe a mesma marca de favor divino que havia sido concedido a Moisés. É um fato significativo que Estêvão não foi denunciado perante o Sinédrio como um nazareno, embora no fundo tenha sido a verdadeira causa de sua denúncia. Assim, também sua defesa perante o Sinédrio, embora o nome de Jesus não tenha sido mencionado até o último, foi na realidade uma grande apologia por Cristo.

A defesa de Estevão perante o Sinédrio

Enquanto a assembleia era dominada pela evidência de singular inocência e santidade escrita no semblante de Estêvão (Atos 6:15), a pergunta do sumo sacerdote “Isso de fato é assim?” (NAA) interrompeu o silêncio. Ela extraiu de Estevão aquele magistral apelo que, tão sublime em forma e conteúdo e desprovido de toda artificialidade, pertence ao tipo mais elevado de oratória, caracterizada por sua espiritualidade profunda, séria e genuína […]. Não é tanto um apelo em autodefesa, mas uma grande defesa da causa que Estevão representa.

Começando por mencionar “o Deus da glória” e terminando com uma visão dessa própria glória, o discurso é uma apoteose maravilhosa da causa humilde do Nazareno, a homenagem entusiástica de seu primeiro grande mártir entregue em face da morte. O conteúdo de seu discurso é uma recitação das fases mais marcantes da história judaica no passado, mas lidas do ponto de vista de seus resultados no presente – fatos antigos interpretados por um discípulo de Cristo cheio do Espírito. Na realidade, é uma filosofia da história e religião de Israel e, até agora, foi um novum (?). Assim, a nova característica que ela fornece é sua filosofia desta história que poderia ser chamada de filosofia cristã da história judaica. Ao apelar para sua razão, ele chama quadro após quadro de Abraão a Moisés; o discurso exibe vividamente a continuidade e o progresso da revelação divina que culminou em Jesus de Nazaré, o mesmo pensamento expresso por Cristo em Mateus 5:17 do acordo principal entre o Antigo Testamento e a revelação do Novo Testamento.

O apelo emocional está na maneira reverente e sentimental com que ele lida com a história sagrada para todos. O forte apelo à vontade faz-se sustentando a figura do tipo Moisés da Lei, no seu significado vital, de forma a aplicá-la apaixonadamente à relação fundamental do desígnio divino e da conduta humana. Assim, o objetivo de Estevão era apontar aos seus ouvintes o verdadeiro significado da história judaica e da Lei judaica em referência ao presente, ou seja, de forma que eles pudessem entender e julgar melhor o presente e ajustar sua conduta de acordo com ele. O conhecimento deles da história judaica e da religião judaica, conforme ele as transmitisse a eles, os compeliria a livrá-lo da acusação de blasfemo e falso mestre contra ele.

De acordo com a acusação contra ele, sua defesa foi dupla: defesa pessoal e defesa de seu ensino.

A sua defesa pessoal

A acusação de blasfêmia contra Deus e desprezo da Lei é implicitamente repudiada pelo teor de todo o discurso. Os termos educados e ao mesmo tempo cativantes no discurso de Estevão (Atos 7:2) ao conselho, e os termos “nossos pais” em Atos 7:2; Atos 7:19 pelo qual ele se associa intimamente com seus ouvintes, sua declaração da majestade divina de Yahweh com a qual o discurso se abre (Atos 7:2), da direção providencial dos patriarcas (Atos 7:810), seu reconhecimento das instituições do Antigo Testamento como divinamente decretadas (Atos 7:8), sua referência à sanção divina da Lei e sua condenação daqueles que não a guardaram (Atos 7:53), no final de seu discurso, mostra claramente sua reverência, não apenas pela história passada da raça judaica, mas também por seus escritos sagrados e todas as suas instituições religiosas. Isso torna evidente, sem dúvida, o quão infundada era a acusação de blasfêmia contra ele. Não à impiedade ou leviandade em Estêvão, mas a alguma outra causa, deve ser devido, portanto, à divergência entre ele e seus oponentes. O que o próprio Estevão mostra inequivocamente na segunda parte de sua defesa.

A defesa de seu ensino

As diferenças fundamentais entre Estêvão e seus oponentes, como fica evidente por todo o tom, tendência e propósito de seu discurso, residem em que ele julgou a história do Antigo Testamento do ponto de vista profético, ao qual Jesus também se aliou, enquanto seus oponentes representava o ponto de vista legalista, tão característico do pensamento judaico daquela época. O significado desta diferença é corroborado pelo fato de que a refutação de Estevão depende, a saber, o fato, provado pela história do passado, de que o desenvolvimento da revelação divina e o desenvolvimento da nação judaica, longe de se combinarem, movem-se em linhas divergentes, devido a uma disposição de desobediência obstinada por parte de seus pais, e que, portanto, não ele, mas eles foram desobedientes à revelação divina. Assim, de maneira magistral, Estêvão converte a acusação de antinomianismo e anti-mosaismo contra ele em uma contra-acusação de desobediência à revelação divina, da qual seus ouvintes eram culpados no presente como seus pais o haviam feito no passado. Nesse sentido, o discurso de Estevão é uma grande apologia da causa cristã que ele representava, na medida em que mostra claramente que a nova religião era apenas o desenvolvimento divinamente ordenado da antiga, e não em oposição a ela.

Os principais argumentos do discurso podem ser resumidos da seguinte forma:

(a) A auto-manifestação de Deus a Israel ao revelar Seu pacto e Sua vontade, longe de ser limitado a um santuário e transmitido a uma única pessoa (Moisés), começou muito antes de Moisés e muito antes de haver um templo. Portanto, foi gradual e, como começou antes de Moisés, não foi concluído por ele, como é evidente em suas próprias palavras: “Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim” (Atos 7:2-37).

(b) Os judeus a quem essas revelações foram concedidas, longe de serem gratos em todos os estágios de sua história, foram lentos em acreditar e entendê-los porque “não seriam obedientes” (Atos 7:51-53,Atos 7:3957). Eles resistiram ao propósito de Deus opondo-se firme e obstinadamente àqueles por meio dos quais Deus trabalhava. Assim, seus pais se afastaram de Moisés no exato momento em que ele estava recebendo a maior revelação de Deus e, em vez de obedecer aos “oráculos vivos” (Atos 7:38) que ele os deu, voltando-se para a adoração de ídolos pela qual Deus os castigou com o cativeiro da Babilônia (Atos 7:39-43). Eles haviam matado os profetas que protestaram contra o ritualismo morto da adoração no templo e levantaram sua voz em favor de uma adoração espiritual verdadeira como a do tabernáculo havia sido (Atos 7:44-50,52). Essa disposição de desobediência tão característica da nação em toda a sua história, porque, apesar da revelação divina recebida, eles permaneceram não regenerados (Atos 7:51), atingiu seu ápice naquele terrível crime de traição e homicídio cometido pela presente geração sobre o “Justo” cuja vinda os profetas previram a rejeição de Jesus de Nazaré, pela qual os judeus condenaram não apenas sua existência nacional, mas também sua adoração no templo e o reinado da Lei à destruição (Atos 7:52).

Embora o nome de Jesus não tenha sido pronunciado por Estevão em seu discurso e não ocorra até sua última oração, seus ouvintes não podiam deixar de notar a referência oculta a Ele em todo o discurso e traçar paralelos pretendidos por Estevão: Como José e Moisés, tipos do Messias, havia sido rejeitado, desprezado e maltratado (Atos 7:9,27,39), antes de ser levantado para ser governante e libertador, então Jesus também foi repelido por eles.

O clímax de seu discurso é alcançado em Atos 7:51-53, quando Estêvão, interrompendo a linha de argumentação, repentinamente em um discurso direto se volta contra seus ouvintes e, tornando o acusado o acusador, os acusa abertamente do pecado de resistir o Espírito Santo, com o assassinato dos profetas e do Justo, e com contínua desobediência à lei. Essas palavras que marcam o clímax, embora provavelmente não o encerramento do discurso, apontaram a moral em termos da repreensão mais cortante, e foram ao mesmo tempo proféticas quanto ao efeito que o discurso teria sobre seus ouvintes e para ele.

O martírio de Estevão

A argumentação e a franqueza de Estevão só poderiam ter um resultado. Enraivecidos como estavam, os argumentos irrespondíveis de Estevão, baseados em suas próprias Escrituras, os deixaram furiosos e, sem dúvida, por meio de suas manifestações, eles pararam o discurso. Mas Estêvão, apresentado com entusiasmo e inspiração, teve uma visão da “glória de Deus”, que ele havia mencionado no início de seu discurso (Atos 7:2), e de Jesus, cuja causa ele havia defendido tão corajosamente (Atos 7:55). Estêvão parado ali, seu olhar penetrando no céu, enquanto o tempo e as limitações humanas pareciam apagadas para ele, marca um dos momentos mais históricos da história de Israel, pois suas palavras constituem o testemunho mais memorável já proferido em nome de Cristo: “Eis, vejo os céus abertos, e o Filho do homem” – o único lugar onde este título é proferido por qualquer outra pessoa que não Jesus – “estando à destra de Deus” (Atos 7:56). Agora o público não conseguia mais conter sua raiva, e a catástrofe veio imediatamente. Contrariando a lei e a ordem romana, eles prenderam Estêvão e, sem esperar a sentença contra ele, em meio a uma cena tumultuada, apedrejaram-no até a morte, a punição prescrita na Lei mosaica para um blasfemo (Deuteronômio 17:7; Levítico 24:14-16). Este recurso à lei do linchamento pode ter sido conivente com as autoridades romanas, uma vez que o ato não tinha significado político. Vale ressaltar, entretanto, que as formas jurídicas judaicas foram observadas, como se para dar à violência a aparência de legalidade. Consequentemente, Estêvão foi levado para fora da cidade (Le 24:14; compare isso com Lucas 4:29); as testemunhas atiraram nele a primeira pedra (compare Deuteronômio 17:7) depois de tirar as vestes de cima e colocá-las aos pés de um “jovem chamado Saulo” (Atos 7:58) – depois Paulo, agora com cerca de 30 anos velho – que evidentemente estava encarregado de todo o processo.

Estêvão morreu como tinha vivido, uma testemunha fiel ao seu Mestre, a quem ele reconheceu como tal em meio à chuva de pedras atiradas contra ele, chamando Seu nome em alta voz: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (Atos 7:59; compare isso com Lucas 23:46), e cujo espírito ele exemplificou de forma tão nobre quando, com um esforço final, dobrando os joelhos, ele “gritou bem alto: — Senhor, não os condenes por causa deste pecado!” (Atos 7:60, NAA; compare com Lucas 23:34). “E, dizendo isso, morreu” (Atos 7:60; compare isso com 1Coríntios 15).

A marca causada pela morte de Estêvão foi ainda maior do que a de sua vida. Embora assinale o início da primeira grande perseguição aos cristãos, a morte do primeiro mártir cristão resultou na maior aquisição que o cristianismo provavelmente já fez, a conversão de Saulo de Tarso. A visão do Jesus ressuscitado e exaltado concedida ao agonizante Estêvão apresentou o cristianismo a Saulo de Tarso sob uma nova luz, tendendo a remover o que havia sido seu maior obstáculo para ele no Crucificado. Essa revelação, juntamente com a esplêndida personalidade de Estêvão, o testemunho de sua vida justa e a nobre bravura de sua morte sublime e, acima de tudo, sua oração agonizante, caiu sobre a alma honesta de Saulo com uma força irresistível e inevitavelmente trouxe o evento de Damasco, como Agostinho reconheceu claramente: “Si Stephanus non orasset, ecclesia Paulum non habuisset” (“Se Estêvão não tivesse orado, a igreja não teria Paulo”, em uma tradução livre). Julgado por seu ensino, Estêvão pode ser chamado de precursor de Paulo. Ele foi um dos primeiros a conceber o fato de que o Cristianismo representava uma nova ordem de coisas e, como tal, iria inevitavelmente substituir a antiga ordem. Assim, seus ensinamentos prenunciam a maior controvérsia do primeiro século cristão, a controvérsia entre o Judaísmo e o Cristianismo, que atingiu seu ponto culminante no Concílio de Jerusalém, resultando na independência da Igreja cristã dos grilhões do legalismo judaico. [ISBE]