João 19:42

Ali pois (por causa da preparação da páscoa dos Judeus, e porque aquele sepulcro estava perto) puseram a Jesus.

Comentário de Thomas Croskery

João atribui a rapidez com que o processo poderia ser concluído como motivo de sepultamento neste sepulcro particular de jardim, e o motivo da urgência foi a solenidade da “preparação”. Mais uma vez os críticos se dividem em dois grupos quanto ao significado desta referência à data da morte do Senhor. É óbvio que tanto os sinoptistas como João implicam que foi uma “sexta-feira”, e que no dia seguinte foi o sábado. Por que, pela terceira vez no espaço de algumas linhas, esta circunstância deve ser notada? Na primeira ocasião, diz-se que a manhã do dia era “a preparação da Páscoa”; na segunda, chama-se “preparação antes do sábado”, e João acrescenta que aquele sábado em particular era um “dia alto”, o que, como vimos, é explicado lembrando que sua santidade foi duplicada, visto que naquele ano em particular o sábado semanal coincidiria com o dia 15 de Nisã, que tinha um valor sabático próprio. Agora ele diz pela terceira vez que foi a “preparação dos judeus” – como entendemos, um dia ou um tempo em que os judeus estavam fazendo preparativos especiais, e isso antes do pôr-do-sol, para a matança do cordeiro pascal. Além disso, o sábado estava se prolongando (ἐπέφωσκεν, Lucas 23:54). Esta tríplice declaração implica que havia algo mais no παρασκευή do que na sexta-feira da semana da Páscoa. É curioso observar as conclusões precisamente contraditórias tiradas desta declaração por duas classes de intérpretes. Godet deu um interessante esboço (vol. 3. pp. 286, 287) da extraordinária idéia de M. Lutteroth, de que o Senhor foi crucificado no dia 10 de Nisan! de que ele ressuscitou dos mortos três dias e noites inteiras depois, na manhã do dia 14. Mas por que João três vezes deveria assim designar o dia? e por que os sinoptistas deveriam colocar tanta ênfase em ser a “preparação”, se o dia fosse realmente o primeiro grande dia da Festa da Páscoa? É notável que Paulo, referindo-se à instituição da Eucaristia, não diz “na noite da refeição da Páscoa”, mas “na noite em que foi traído” (1Coríntios 11:23), e fala de Jesus como a (ἀπαρχή) “Primícias dos mortos”, como se a manhã da ressurreição coincidisse com a apresentação das primícias, que, sobre a idéia de que Jesus sofreu no dia 15, teria sido apresentada na manhã do sábado judaico, enquanto a referência em 1Corintios 5:7-9, escrita na época de uma Páscoa, é mais a favor da matança do cordeiro pascal coincidindo com a morte de Jesus do que a instituição da Eucaristia fazendo isso. A referência mais extraordinária ao Παρασκεύη é aquela que Mateus 28:62 introduz, quando na verdade ele se refere ao sábado quando este tinha começado (na noite do dia 14 ou 15, o que quer que fosse, ou seja, depois das 18 horas). sob a designação de “o dia depois da preparação”. Geralmente o dia mais importante receberia seu próprio nome, e não seria designado pelo dia menos sinalizado. Por que Mateus não disse: “No dia seguinte, que era o sábado”? O único grupo de intérpretes respondeu que ele desejava discriminar o verdadeiro sábado como diferente do meio-sábado do dia anterior, feito assim por ser também o grande dia da festa! Mas é mais natural supor que “o dia da preparação”, o dia da morte do Senhor, pairava tão amplamente na mente do evangelista, que seu dia seguinte derivou de si mesmo sua importância neste caso particular. A única dificuldade real para resolver esta desgastante controvérsia surge de uma declaração dos sinoptistas, que, se resolvida no rígido sentido de limitar suas expressões à noite do dia 14 e início do dia 15, nos envolve em sérias dificuldades ao considerarmos cinco ou seis declarações distintas e independentes do Evangelho de João. Mostramos em cada um desses lugares o duplo método de tratamento exegético que foi tentado e, em cada caso, a honestidade nos obriga a admitir que João está aqui em aparente discórdia com os sinoptistas. Se, entretanto, nosso Senhor antecipou em poucas horas a celebração da ceia pascal, vendo que sua “hora era chegada”, não se desviando realmente do dia legal (embora, como Senhor do sábado e maior do que o templo, ele estava amplamente justificado em fazê-lo), mas apressando o processo entre os dias 13 e 14, quando os portadores de água seriam vistos buscando sua água pura para o propósito; e se ele celebrou a Páscoa no início e não no final do 14 de Nisan, então a aparente discórdia entre João e os sinoptistas desaparece, e os terríveis eventos das provações e crucificação de Jesus realmente aconteceram na época em que os judeus (não o próprio Cristo) estavam se preparando para a Páscoa propriamente dita. Nesta hipótese, as duas narrativas não estariam mais em antagonismo sem esperança. Com esta conclusão estamos mais satisfeitos, já que, como vimos em João 13:1 e em outros lugares, os próprios sinoptistas oferecem numerosas evidências corroboratórias (Introdução, pp. 92-95.). [Croskery, aguardando revisão]

< João 19:41 João 20:1 >

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.