Respondeu Jesus, e disse-lhe: Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
Comentário de Brooke Westcott
Se tu conhecesses (tivesses conhecido) o dom de Deus… As palavras são, como comumente ocorre no Evangelho de João, uma resposta à ideia essencial da pergunta anterior. A mulher buscava entender o fato estranho um judeu pedir um favor a uma samaritana. No entanto, como ela vagamente percebeu, isso era apenas uma parte do novo mistério. O franco apelo à caridade humana, que transcende antagonismos religiosos, indicava uma possibilidade de união maior do que ela poderia esperar. Se ela soubesse o que Deus agora havia feito pela humanidade e quem era esse Mestre judeu que ela via, ela própria teria ousadamente pedido a Ele um favor muito maior do que o que Ele lhe pedira e o teria recebido de imediato: ela se tornaria a suplicante e não se espantaria com o pedido: sua dificuldade atual seria resolvida pela compreensão da nova revelação que havia sido dada não a judeus ou samaritanos, mas a seres humanos. Se ela conhecesse o dom de Deus, o dom de Seu Filho (João 3:16), que inclui tudo o que o ser humano poderia desejar, ela sentiria que as necessidades das quais estava parcialmente ciente (v. 25) poderiam finalmente ser satisfeitas. Se soubesse quem era aquele que lhe dizia “Dá-me de beber,” ela teria derramado sua oração a Ele sem reservas ou dúvidas, confiante em Sua simpatia e ajuda.
o dom. A palavra aqui usada (δωρεά) aparece apenas neste ponto nos Evangelhos. Ela carrega uma ideia de generosidade, honra, privilégio; e é usada para descrever o dom do Espírito (Atos 2:38, 8:20, 10:45, 11:17) e o dom da redenção em Cristo (Romanos 5:15; 2Coríntios 9:15), manifestado de várias formas (Efésios 3:7, 4:7; Hebreus 6:4). Esse uso indica que há aqui uma referência geral às bênçãos dadas à humanidade na revelação do Filho, e não apenas uma simples descrição do que foi concedido à mulher em sua conversa com Cristo. “O dom de Deus” é tudo o que é oferecido gratuitamente no Filho.
tu lhe pedirias. O pronome é enfático (αὺ ἃν ᾔτ).
água viva – isto é, água perene, que flui de uma fonte inesgotável (Gênesis 26:19), sempre fluindo fresca (Levítico 14:5). O pedido que Cristo havia feito forneceu a ideia de uma parábola; a necessidade física que Ele sentia sugeria uma imagem da bênção espiritual que Ele estava pronto para conceder.
Os judeus já estavam familiarizados com a aplicação da expressão “água viva” para se referir às energias vivificantes que procedem de Deus (Zacarias 14:8; Jeremias 2:13, 17:13. Cf. v. 14, nota), embora seja incerto até que ponto essa linguagem profética seria conhecida pelos samaritanos. Aqui, as palavras indicam aquilo que, do lado divino, responde à sede espiritual, aos anseios dos homens por comunhão com Deus. Isso pode ser visto sob vários aspectos: como a Revelação da Verdade, o dom do Espírito Santo, individual ou socialmente, ou qualquer coisa que, de acordo com as circunstâncias, conduza à vida eterna (v. 14), que consiste no conhecimento de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo (João 17:3). [Westcott, 1882]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.