Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
Comentário de Brooke Westcott
Ninguém pode…o trouxer. Compare com 5:40, “vocês não querem vir a mim”. Em todos os casos semelhantes, esse “vir a Cristo” pode ser visto de duas perspectivas: do lado humano, como algo que depende da vontade do homem; ou do lado divino, como algo que depende do poder de Deus. Assim, São Bernardo observa em relação a essas palavras: “nemo quippe salvatur invitus” (“Ninguém é salvo contra sua vontade”, em De grat. et lib. act. 11). Contudo, até mesmo a vontade humana vem de uma natureza divina, sendo um dom divino (1:12-13; 3:7 e seguintes; 8:47; 6:65). O “atrair” do Pai é melhor ilustrado pelo “atrair” do Filho em 12:32. O princípio que constrange é o amor despertado pelo auto-sacrifício, um amor que chama, mas não destrói a liberdade humana, resultando em auto-sacrifício. A missão do Filho pelo Pai (que enviou a mim), o ato soberano de amor (3:16), está assim intimamente conectada ao poder exercido pelo Pai sobre os homens. Agostinho (comentando esse texto) expressa essa ideia de forma enfática: “‘Trahit sua quemque voluptas’; non trahit revelatus Christus a Patre? Quid enim fortius desiderat anima quam veritatem?” (“Cada um é atraído por seu próprio desejo; Cristo revelado pelo Pai não atrai? O que a alma deseja mais intensamente do que a verdade?”). Compare com João 6:68.
Ninguém pode vir. Essa impossibilidade divina é a expressão de uma lei moral. Não é algo arbitrário, mas inerente à própria natureza das coisas; não limita, mas define a natureza do poder humano. Compare com 5:19 (nota), 30 (sobre o Filho) e 12:39 (nota).
vir. Aqui e em João 6:65, o “vir” (ἐλθεῖν) é visto como algo completo, não em progresso, como em 6:37 e 7:37 (ἐρχέσθω).
trouxer (ἐλκύσω) Compare com Jeremias 31:3 (LXX).
e eu… O Filho continua e completa o que o Pai começou. A mudança na posição do pronome modifica ligeiramente a força dessa cláusula repetida. Em João 6:40, o crente e Cristo são colocados em notável justaposição (ἀναστήσω αὐτὸν ἐγὼ, “eu o ressuscitarei”); aqui, o “eu” vem primeiro, referindo-se a toda a cláusula anterior (καὶ ἐγὼ ἀναστήσω αὐτόν). [Westcott, 1882]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.