Quando mencionado pela primeira vez na Bíblia, João (seu nome judeu) Marcos (seu nome romano) e sua mãe já eram cristãos (44 d.C.). Ele tinha sido convertido pela influência pessoal de Pedro (1Pedro 5:13) e já havia conquistado um grande lugar no respeito dos irmãos, como demonstra o fado de ter sido escolhido para acompanhar Barnabé e Saulo a Antioquia, um pouco depois. A casa de sua mãe era um local de refúgio para os cristãos, de modo que Marcos teve todas as oportunidades para se familiarizar com outros líderes, como Tiago e João, e Tiago, o irmão do Senhor. Talvez tenha sido deste último Tiago que ele soube do incidente de Marcos 3:21, que Pedro teria menos probabilidade de mencionar.
Seu parentesco com Barnabé, conhecimento da história e doutrina cristã, e eficiência comprovada explicam por que foi levado junto na primeira jornada missionária como “auxiliar” (huperetes) de Barnabé e Saulo (Atos 13:5, NAA). O que exatamente esse termo implica não está claro. Chase conjectura que o significado seja que ele havia sido huperetes, “assistente” ou chazzan na sinagoga (compare com Lucas 4:20, NAA), e era conhecido como tal oficial. Wright (tradução inglesa, fevereiro de 1910) sugere que ele deveria prestar nas igrejas recém-fundadas um serviço de ensino semelhante ao do chazzan da sinagoga. Hackett pensava que o kai deste verso implica que ele faria o mesmo tipo de trabalho que Barnabé e Saulo e, assim, seria o “auxiliar” deles na pregação e ensino. A visão mais comum tem sido (Meyer, Swete, et al.) que ele deveria realizar “serviço pessoal não evangelístico”, “serviço oficial, mas não do tipo de um servo” – ser uma espécie de gestor (? business agent). A visão de que deveria ser um mestre, um catequista para convertidos, parece se encaixar melhor em todos os fatos.
Por que ele voltou atrás no trabalho (Atos 13:13)? Não por saudades de casa, ou ansiedade pela segurança de sua mãe, ou deveres domésticos, ou o desejo de se reunir a Pedro, ou medo dos perigos inerentes à viagem, mas sim porque se opunha à oferta de salvação aos gentios com base apenas na fé. Há indícios de que a família de Marcos, como a de Paulo, eram hebreus dos hebreus, e não é sem significado que em ambos os versículos (Atos 13:5, 13) ele seja chamado apenas por seu nome hebraico. Os termos da repreensão de Paulo são muito fortes (Atos 15:38), e sabemos que nada mexia mais com os sentimentos de Paulo do que essa questão. A explicação de tudo isso pode ser encontrada no que aconteceu em Pafos quando o romano Sérgio Paulo se tornou um crente. Naquele momento, Paulo (a mudança de nome é aqui observada por Lucas) se destacou, e daí em diante, com exceção de Atos 15:12, 25, onde naturalmente a antiga ordem é mantida, Lucas fala de Paulo e Barnabé, não de Barnabé e Saulo. Devemos lembrar que, naquela época, Paulo estava quase sozinho em sua convicção. Barnabé, ainda mais tarde do que isso, teve dúvidas (Gálatas 2:13). Talvez, também, Marcos fosse menos capaz do que o próprio Barnabé de ver este último assumir o segundo lugar.
Não ouvimos mais nada de Marcos até o início da segunda jornada missionária, 2 anos depois, quando a relutância de Paulo em levá-lo consigo levou à ruptura entre Paulo e Barnabé e à missão de Barnabé e Marcos a Chipre (Atos 15:39). Ele é aqui chamado de Marcos, e dessa maneira discreta Lucas pode indicar sua própria convicção de que a mente de Marcos havia mudado sobre a grande questão, como de fato sua disposição em acompanhar Paulo sugere. Ele tinha aprendido com as discussões no concílio de Jerusalém e com os acontecimentos subsequentes em Antioquia.
Cerca de 11 anos se passam antes de ouvirmos falar dele novamente (Colossenses 4:10; Filemom 1:24). Ele está em Roma com Paulo. A ruptura é curada. Ele agora é um dos poucos fiéis entre os cristãos judeus que ficam ao lado de Paulo. Ele é o “colaborador” honrado de Paulo e um grande “consolo” para ele.
A passagem de Colossenses pode implicar uma visita planejada por Marcos à Ásia Menor. Pode ser que tenha sido realizada, que ele tenha encontrado Pedro e tenha ido com ele para a Babilônia. Em 1Pedro 5:13, o apóstolo envia uma saudação de Marcos junto com a da igreja em Babilônia. De lá, Marcos retorna à Ásia Menor, e em 2Timóteo 4:11, Paulo pede a Timóteo, que está em Éfeso, para ir até ele, pegar Marcos no caminho e trazê-lo junto. Nesse contexto, Paulo presta seu último tributo a Marcos; ele é “útil para o ministério” (euchrestos eis diakonian), tão útil que seu ministério é uma alegria para o coração do veterano.
Família de João Marcos
O nome de sua mãe era Maria (Atos 12:12). A casa é referida como sendo dela. O pai provavelmente já tinha morrido. A descrição da casa (com sua grande sala e varanda) e a menção do escravo grego sugerem uma família rica. Provavelmente estavam entre os muitos judeus zelosos que, tendo enriquecido, se retiraram para Jerusalém, o centro de sua nação e fé. Marcos era “primo” de Barnabé, de Chipre (Colossenses 4:10), que também parece ter sido um homem de posses (Atos 4:36). Possivelmente Chipre também era a antiga casa de Marcos.
Sua história conhecida de fontes extra bíblicas
A tradição mais importante e confiável é que ele foi o assistente e intérprete de Pedro, e nos deu, no Evangelho que leva seu nome, um relato do ensino de Pedro. Para essa amizade, os fatos do Novo Testamento fornecem uma base, enquanto as lacunas na história do Novo Testamento deixam amplo espaço. Outras tradições acrescentam pouco que seja confiável. Diz-se que Marcos tinha sido sacerdote e que, depois de se tornar cristão, amputou um dedo para se desqualificar para esse serviço. Daí a designação kolobo-daktulos, que, no entanto, às vezes é explicada de outra forma. Ele é representado como tendo permanecido em Chipre até depois da morte de Barnabé (que estava vivo em 57 d.C. de acordo com 1Coríntios 9:5 e segs.) e então ter ido para Alexandria, fundado a igreja lá, se tornado seu primeiro bispo e morrido lá (ou sido martirizado) no 8º ano de Nero (62-63). Eles acrescentam que, em 815 d.C., soldados venezianos roubaram seus restos de Alexandria e os colocaram sob a igreja de Marcos em Veneza. [J. H. Farmer, ISBE, 1915]