Lucas 6

1 E aconteceu que, no sábado, Jesus passou pelas plantações, e seus discípulos iam arrancando espigas, e comiam, debulhando-as com as mãos.

Comentário de Frederic Farrar

(1-5) OS DISCÍPULOS COMLHEM ESPIGAS NO SÁBADO (também em Mateus 12:1-8; Marcos 2:23-28)

E aconteceu que, no sábado (“no segundo sábado após o primeiro“, ACF). Lucas dá essa expressão única para indicar o tempo, sem mais explicações, e estudiosos ainda não chegaram a um consenso – e talvez nunca cheguem – sobre seu exato significado. A única analogia ao termo é o deuterodekate ou “segundo décimo” mencionado por Jerônimo em Ezequiel 45. Entre as dez ou mais interpretações sugeridas, e desconsiderando as que parecem totalmente arbitrárias, as principais são:

a. O primeiro sábado do segundo mês (Wetstein).

b. O primeiro sábado após o segundo dia da Páscoa (Scaliger, Ewald, De Wette, Neander, Keim, etc.).

c. O primeiro sábado do segundo ano do ciclo sabático de sete anos (Wieseler).

d. O primeiro sábado do ano eclesiástico. No calendário judaico, o ano tinha dois inícios: o ano civil começava em Tisri (meados de setembro) e o ano eclesiástico em Nisã (meados de março).

O termo “primeiro-primeiro sábado” pode, então, ter sido um nome dado ao primeiro sábado do ano civil (outono), e “segundo-primeiro” ao primeiro sábado do ano eclesiástico (primavera), como sugerido por Cappell e Godet.

e. O Sábado de Pentecostes – com o sábado da Páscoa sendo considerado o protoproton ou “primeiro-primeiro” (Cornélio a Lapide).

Essas e outras explicações devem ser consideradas apenas como conjecturas, pois faltam evidências definitivas entre os judeus para essa nomenclatura sabática. Mas é importante observar que:

  1. A leitura em questão não pode ser considerada absolutamente certa, pois está ausente nos manuscritos א, B, L e em várias versões importantes, incluindo a Síria e a Cópta. Por isso, editores como Tregelles e Meyer a omitem; Lachmann e Alford a colocam entre colchetes. [Sua inserção pode ser explicada por anotações marginais. Assim, se um copista colocou “primeiro” na margem em referência ao “outro” sábado de Lucas 5:6, um copista subsequente poderia ter corrigido para “segundo” em relação a Lucas 4:31; e os dois podem ter sido combinados, gerando uma confusão sem solução. Caso isso seja considerado improvável, parece igualmente improvável que tenha sido omitido intencional ou acidentalmente se fizesse parte do texto original. Além disso, por que Lucas, escrevendo para gentios, usaria uma palavra sem explicação, totalmente sem sentido para eles e tão técnica que em todos os volumes de literatura judaica não há um único vestígio dela?]
  2. Descobrir o significado exato da palavra é importante apenas como uma questão de arqueologia. Felizmente, não há dúvida sobre a época do ano em que o incidente ocorreu. A narrativa sugere que as espigas que os discípulos colheram e esfregaram eram de trigo, não de cevada. O primeiro feixe de cevada madura era oferecido na Páscoa (na primavera) e o primeiro feixe de trigo maduro, no Pentecostes (cinquenta dias depois). O trigo amadureceria mais cedo na rica depressão do vale de Genesaré. De qualquer forma, a época era primavera ou início do verão, e o sábado (seja a leitura correta ou não) provavelmente foi algum sábado do mês de Nisã.

Jesus passou pelas plantações. Compare com Mateus 12:1-8; Marcos 2:23-28. Marcos usa a expressão curiosa de que “ele atravessava pelos campos de cereal”, aparentemente em um caminho entre dois campos—”e seus discípulos começaram a abrir caminho colhendo as espigas”. Tudo o que se pode inferir disso é que Jesus estava caminhando separado de seus Apóstolos e que Ele mesmo não colheu as espigas.

iam arrancando espigas. Isso mostra sua fome e pobreza, especialmente se o cereal fosse cevada. A Lei permitia isso—“Quando entrares no campo de cereal de teu próximo, poderás colher espigas com tua mão,” Deuteronômio 23:25. Mateus, ao dizer “começaram a colher”, mostra como os fariseus prontamente aproveitaram a chance de criticar. [Farrar, 1891]

2 E alguns dos fariseus disseram: Por que fazeis o que não é lícito nos sábados?

Comentário de Frederic Farrar

alguns dos fariseus. Como a sequência cronológica desse incidente é incerta, é possível que esses fariseus fossem aqueles espiões que, conforme o ministério de Jesus avançava, seguiam Seus passos (Mateus 15:1; Marcos 3:22; 7:1), com o desejo desprezível de acusá-Lo de heresia ou de violação da Lei. Talvez quisessem observar se Ele excederia o limite de 2.000 côvados permitidos para a caminhada no sábado (Êxodo 16:29). Já nos deparamos com algumas críticas implicantes feitas por esse ódio oculto em Lucas 5:14, 21 e 30.

Por que fazeis. Em Marcos, a pergunta é dirigida a Jesus com desprezo: “Veja, por que eles fazem no sábado o que não é permitido?”

o que não é lícito nos sábados. O ponto aqui era o seguinte: uma vez que a Lei ordenava que os judeus “não fizessem nenhum tipo de trabalho” no sábado, a Lei Oral criou trinta e nove proibições principais atribuídas à Grande Sinagoga, conhecidas como abhoth ou “regras principais”. Dessas regras principais, surgiram inúmeras toldoth, regras derivadas. Nesse contexto, “ceifar” e “debulhar” no sábado eram proibidos pelos abhoth; e, pelas toldoth, argumentava-se que colher espigas era uma forma de ceifa, e esfregá-las, uma forma de debulha. Mas, enquanto se prendiam servilmente a essas minúcias, os fariseus “omitiram os aspectos mais importantes da Lei: o juízo, a misericórdia e a fé” (Mateus 22:23). A persistência dessas noções entre os judeus é impressionante. Abarbanel relata que, em 1492, quando os judeus foram expulsos da Espanha e proibidos de entrar na cidade de Fez sob o risco de causar uma fome, eles sobreviveram comendo grama; ainda assim, “religiosamente evitavam a violação do sábado ao não arrancarem a grama com as mãos”. Para fazer isso, adotaram o método muito mais árduo de se ajoelhar e cortar a grama com os dentes! [Farrar, 1891]

3 E Jesus lhes respondeu: Nunca lestes isto, o que Davi fez quando teve fome, ele e os que com ele estavam?

Comentário de Frederic Farrar

Nunca lestes isto. Jesus responde aos fariseus usando uma das fórmulas de debate deles, mas com um toque de ironia, evidenciando sua ignorância, algo que também aparece na frase de Marcos: “Vocês nunca leram?”—embora sejam escribas e dediquem todo o tempo às Escrituras? Essa pergunta de repreensão pode ter sido ainda mais provocativa porque o próprio trecho citado por Jesus (1Samuel 21:1-6) havia sido lido naquele sábado como a Haphtará do dia. O culto já havia terminado, pois nenhuma refeição era feita antes disso. Contudo, esse fato não ajuda a determinar qual era o “segundo-primeiro” sábado, pois o lecionário judaico atual é de data posterior.

e os que com ele estavam. Sabemos que isso ocorreu em um sábado, pois era somente nesse dia que o novo pão da proposição era colocado sobre a mesa (Levítico 24:8-9). [Farrar, 1891]

4 Como entrou na casa de Deus, tomou, e comeu os pães da apresentação, e deu aos que estavam com ele, pães que não é lícito comer, a não ser só os sacerdotes?

Comentário de Frederic Farrar

tomou, e comeu. Em Marcos, lemos que isso aconteceu “nos dias de Abiatar, o sumo sacerdote.” O sacerdote que realmente deu o pão a Davi foi Aimeleque, pai de Abiatar.

os pães da apresentação; também chamado de “pão contínuo” em Números 4:7, ou “Pão da Presença”, pois era colocado perante a presença de Deus (Levítico 24:6-7). Havia doze pães sem fermento, polvilhados com incenso, dispostos sobre uma pequena mesa de ouro.

pães que não é lícito comer, a não ser só os sacerdotes? Segundo a Lei: “Pertencerá a Arão e seus filhos; e eles o comerão no lugar sagrado, pois é santíssimo para eles” (Levítico 24:9). Dessa forma, Davi, herói e santo favorito deles, violou abertamente a letra da Lei com o total consentimento do sumo sacerdote, baseado na necessidade — ou seja, porque a misericórdia é superior ao sacrifício; e porque a lei moral sempre deve prevalecer sobre a lei cerimonial. Esse exemplo é uma prova concreta tirada dos Kethubim ou livros sagrados (Hagiográficos); em Mateus, nosso Senhor adiciona um argumento ainda mais impressionante, baseado no princípio da própria Lei. Por suas disposições, os sacerdotes, ao realizarem o trabalho laborioso de oferecer sacrifícios, quebravam o sábado e, ainda assim, eram considerados inocentes. Disso, os judeus posteriores deduziram a notável regra de que “não há sabatismo no Templo” (Números 28:9). E Jesus acrescentou: “Mas eu digo a vocês que há algo maior que o Templo aqui.” A referência a essa prática deles próprios aparece em Lucas 14:5. [Farrar, 1891]

5 E dizia-lhes: O Filho do homem é Senhor do sábado.

Comentário de Alfred Plummer

O Filho do homem é Senhor (κύριός) do sábado. Em todos os três relatos, “κύριος” (Senhor) aparece primeiro, com ênfase. O Filho do Homem controla o sábado, não é controlado por ele. Isso não significa que Ele o revoga (Mateus 5:17-20), mas que Ele tem o poder de suspender a observância literal do sábado para realizar ou permitir o que está de acordo com seu espírito. Em Marcos é acrescentado que “o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”, ou seja, o sábado foi dado como bênção, não como fardo. Mesmo os rabinos às vezes entendiam isso: “O sábado é entregue a vocês; vocês não foram entregues ao sábado” (Edersh. L. & T. 2, p. 58). O ritual deve ceder à caridade. O caráter divino da Lei é melhor honrado quando a tornamos amável; e os fariseus a transformaram em um rígido capataz. E se o sábado cede ao homem, muito mais ao Filho do Homem. Em João 5:17, Cristo assume uma posição ainda mais elevada. O Pai não observa o sábado quando trabalha para o bem da homem, e o Filho possui o mesmo direito e liberdade. Sobre “ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου” (o Filho do Homem), veja em Lucas 5:24. O ponto aqui é que Cristo, como representante do homem, defende a liberdade do ser homem.

O códice D transfere o versículo 5 para depois do 10 e inclui a inserção notável: τῇ αὐτῇ ἡμέρᾳ θεασάμενός τινα ἐργαζόμενον τῶς σαββάτως εἶπεν αὐτῷ· ἄνθρωπε, εἰ μὲν οἰδας τί ποιεῖς, μακάριος εἰ δὲ μὴ οἰδας, ἐπικατάρατος καὶ παραβάτης εἶ τοῦ νόμου. Para ἄνθρωπε (Homem), compare Lucas 12:14; ἐπικατάρατος (maldito), com Gálatas 3:10; παραβάτης νόμου (transgressor da lei), com Romanos 2:25, 27 e Tiago 2:11. É possível que a tradição preservada no códice D seja a fonte de onde Paulo e Tiago retiraram a expressão παραβάτης νόμου. Em Romanos 2, onde ocorre duas vezes, vemos o termo ἄνθρωπε também duas vezes (vv. 1, 3). Não há nada de inacreditável em Cristo ter visto um homem trabalhando (não necessariamente em público) no sábado. As palavras atribuídas a Cristo aqui diferem das invenções pouco dignas e até imorais dos evangelhos apócrifos, então podemos acreditar que esta história tradicional é verdadeira, ainda que não faça parte dos Evangelhos Canônicos. O códice D contém outras inserções significativas em Mateus 20:28 e João 6:56. Veja A. Resch, Agrapha Aussercanonische Evangelienfragmente (Leipzig, 1889), pp. 36 e 189. [Plummer, 1896]

6 E aconteceu em outro sábado que entrou na sinagoga, e estava ensinado; e ali estava um homem que tinha a mão direita definhada.

Comentário de Frederic Farrar

6-11. A CURA DO HOMEM COM A MÃO RESSEQUIDA

na sinagoga. Mateus 12:9-14; Marcos 3:1-6. Nenhum dos Evangelhos nos permite determinar com precisão o momento ou local em que essa cura ocorreu.

ali estava um homem que tinha a mão direita definhada. É claro que ele estava ali na esperança de ser curado, mas, mesmo assim, os fariseus consideraram isso reprovável (Lucas 13:14). O Evangelho dos Ebionitas acrescenta que ele era um pedreiro, ferido em um acidente, e que implorou a Jesus que o curasse para que não precisasse mendigar pelo seu sustento (Jerônimo sobre Mateus 12:10). [Farrar, 1891]

7 E os escribas e fariseus o observavam, se o curaria no sábado; para acharem de que o acusar.

Comentário de Frederic Farrar

os escribas e fariseus o observavam – (Lucas 20:20). Os seguidores de Shammai, a escola farisaica mais influente daquela época, tinham uma visão tão rigorosa sobre o sábado que consideravam uma violação da Lei até mesmo cuidar dos enfermos ou consolá-los nesse dia. Assim, os fariseus aguardavam para ver se Jesus apoiaria suas visões estritas sobre o sábado ou se alinharia com os saduceus, mais liberais e detestados pelo povo. Se Ele se posicionasse ao lado dos saduceus, os fariseus acreditavam que poderiam arruinar a popularidade do Grande Profeta. Porém, em cada situação, (1) nosso Senhor recusava-se a seguir a ortodoxia popular do momento, por mais tirânica e aparentemente fundamentada nas Escrituras que fosse; e (2) ignorava considerações partidárias para se apegar a princípios. [Farrar, 1891]

8 Mas ele bem sabia dos seus pensamentos; e disse ao homem que tinha a mão definhada: Levanta-te, e põe-te em pé no meio. E ele se levantou e se pôs de pé.

Comentário de Alfred Plummer

Mas Ele, em contraste com esses espiões – 5:16, 8:37, 54 – bem sabia dos seus pensamentos (διαλογισμός). O termo διαλογισμός geralmente se refere a questionamentos internos e intelectuais, ao invés de disputas abertas; veja 5:22 e compare com 1Timóteo 2:8.

Levanta-te, e põe-te em pé no meio (Somente em Lucas aparece καὶ στῆθι). O método de Cristo é tão transparente quanto o de Seus adversários é dissimulado. “Levanta-te e fica no meio”, isto é, “Venha ao centro e fique ali”; compare com 9:7; Atos 8:40. Em seguida, observe o termo favorito de Lucas, ἀναστάς (Lucas 1:39), que não é usado por Mateus nem por Marcos aqui.

Nenhum dos evangelistas registra palavras do homem; mas Jerônimo, comentando Mateus 12:13, menciona que, no evangelho utilizado pelos nazarenos e ebionitas, esse homem, descrito como pedreiro, pedia ajuda com as palavras: “Eu era pedreiro, ganhando a vida com as mãos. Suplico a Ti, Jesus, que me restaures a saúde, para que eu não precise mendigar vergonhosamente por comida”. [Plummer, 1896]

9 Então Jesus lhes disse: Eu vos pergunto: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? Salvar uma pessoa, ou matá-la?

Comentário de Frederic Farrar

Eu vos pergunto – Ou, mais precisamente, “Eu vos pergunto algo mais.” Isso implica que Ele já havia feito algumas perguntas para tocar a consciência deles sobre esse assunto, ou talvez porque eles próprios já Lhe haviam perguntado: “É lícito curar no sábado?” (Mateus 12:10). [Farrar, 1891]

10 E ele, olhando para todos em redor, disse-lhe: Estende a tua mão. E ele o fez; e a mão foi lhe restituída.

Comentário de Frederic Farrar

olhando para todos em redor – Marcos acrescenta “com ira, entristecido pela dureza (porosin, Romanos 11:25) de seus corações.”

Estende a tua mão. Compare com 1Reis 13:4. [Farrar, 1891]

11 Então encheram-se de ira; e conversaram uns com os outros sobre o que fariam a Jesus.

Comentário de Frederic Farrar

Então encheram-se de ira. Ou, mais precisamente, “encheram-se de insensatez”. A palavra sugere uma falta de razão, uma espécie de frenesi causado pelo preconceito obstinado. Ela descreve bem o estado de ódio ignorante, fixo na convicção de sua própria infalibilidade (2Timóteo 3:9). Os dois primeiros milagres realizados no sábado (Lucas 4:35; Lucas 4:39) não geraram oposição, pois nenhum desses espiões religiosos e caçadores de heresia (Lucas 20:20) estava presente.

conversaram – ou melhor, “começaram a conversar”. Esse milagre público e a refutação pública consolidaram o ódio deles contra Jesus (Mateus 12:14; compare com João 11:53).

uns com os outros. E, como Marcos acrescenta, com os herodianos. Isso demonstra o extremo de seu ódio, pois até então os fariseus consideravam os herodianos uma facção política meio apóstata, mais próxima dos saduceus e disposta a sacrificar os verdadeiros interesses de seu país e fé. Mateus (Lucas 12:14) afirma que eles chegaram a “fazer um conselho contra Ele”.

o que fariam a Jesus. A forma verbal usada, conhecida como o aoristo eólico, implica uma perplexidade extrema. [Farrar, 1891]

12 E aconteceu que naqueles dias ele foi ao monte para orar; e passou a noite orando a Deus.

Comentário de Frederic Farrar

(12-19) A ESCOLHA DOS DOZE APÓSTOLOS

naqueles dias. Cansado da constante espionagem e oposição que enfrentava. Provavelmente esses dois últimos incidentes pertencem a um período posterior do ministério de Jesus, após o Sermão do Monte (como em Mateus) e o brilhante ano de aceitação em Galileia, marcado pelo trabalho de Jesus. De qualquer forma, a partir de Lucas 6:12 até 8:56, temos aqui um ciclo esplêndido do trabalho messiânico de Cristo em Galileia, na fase mais feliz de Seu ministério.

ao monte – uma referência especial ao Kurn Hattin, ou “Chifres de Hattin”, local tradicional e quase certamente o cenário real do Sermão do Monte.

orando a Deus. A expressão usada aqui é peculiar. Literalmente, significa “na oração de Deus”. Por isso, alguns interpretaram que deveria ser traduzido como “na Casa de Oração de Deus”. Em grego, a palavra proseuche pode significar tanto “oração” quanto “casa de oração”, como na pergunta feita a uma pessoa pobre em Juvenal: “Em qual proseucha devo procurá-lo?” As proseuchae eram espaços murados e sem teto, dedicados ao culto onde não havia sinagoga, como em Filipos (Atos 16:13). Contudo, essa interpretação encontra uma dificuldade aqui, pois as proseuchae geralmente, senão invariavelmente, eram próximas de águas correntes (Jos. Antiq. xiv. 10, § 23), para as lavagens rituais, e não eram construídas em colinas. Por outro lado, se τὸ ὄρος significar apenas “região montanhosa”, essa objeção não é insuperável. Para outro exemplo de uma noite passada em oração em uma montanha, veja Mateus 14:23. [Farrar, 1891]

13 E quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também chamou de apóstolos:

Comentário de Frederic Farrar

escolheu doze deles – sem dúvida, fazendo referência às doze tribos de Israel.

a quem também chamou de apóstolos. A palavra significa, primeiramente, “mensageiros”, como em Filipenses 2:25. É uma tradução do hebraico Sheloochim, que frequentemente designava emissários da Sinagoga (compare com Marcos 3:14, να ἀποστέλλῃ αὐτούς). Nos outros Evangelhos, aparece com esse sentido apenas em Marcos 6:30; Mateus 10:2; e apenas uma vez na Septuaginta, em 1Reis 14:6. No Novo Testamento, a palavra tem dois usos: um geral (João 13:16; Romanos 16:7; Hebreus 3:1) e um específico (1Coríntios 9:1 e outras passagens). A escolha dos Apóstolos tornou-se necessária tanto pela crescente fama de Jesus quanto pela hostilidade mortal que se desenvolvia contra Ele. A formação dos Apóstolos logo se tornou a parte mais importante de Sua obra na terra. [Farrar, 1891]

14 Simão, a quem também chamou de Pedro, e seu irmão André; Tiago, e João; Filipe, e Bartolomeu.

Comentário do Púlpito

Simão (a quem também chamou de Pedro). O Mestre já havia, ao ler o futuro, concedido a este servo muitas vezes errante, mas nobre e devotado. o sobrenome, Cephas, literalmente, uma “pedra”.

André. Um dos primeiros crentes, e contado entre os quatro cujo ofício os colocava em uma relação mais próxima com seu Mestre, e ainda por alguns – para nós – razão inexplicada, André não ocupava aquela posição de intimidade compartilhada por Pedro, Tiago e João. Ele era aparentemente amigo íntimo e associado de Filipe, o primeiro dos “quatro” segundos.

Tiago, e João. Nomes bem conhecidos e homenageados nos registros dos primeiros dias. Marcos adiciona um detalhe vívido que lança muita luz sobre o caráter e a sorte dos irmãos; ele os chama de Boanerges, “filhos do trovão”. O entusiasmo ardente de Tiago, sem dúvida, o levou a receber a primeira coroa de mártir atribuída à “gloriosa companhia dos apóstolos”, enquanto o mesmo zelo ardente do amado apóstolo colore o Apocalipse.

Filipe. João 6:5 pode ser citado para mostrar que o Senhor tinha uma amizade peculiar com o primeiro dos quatro segundos.

Bartolomeu; Bar-Tolmai:filho de Tolmai, Ele, portanto, deve ter sido conhecido também por algum outro nome. No Evangelho de João, Bartolomeu nunca é mencionado, mas Natanael, cujo nome aparece no Quarto Evangelho entre os apóstolos, e que não é mencionado nas memórias de Mateus, Marcos e Lucas, evidentemente representa a mesma pessoa. O verdadeiro nome do filho de Tolmai, então, parece ter sido Natanael. [Pulpit, aguardando revisão]

15 Mateus, Tomé; Tiago filho de Alfeu, e Simão chamado 'o Zelote'.

Comentário do Púlpito

Mateus. Na lista contida no Evangelho que as tradições unânimes da Igreja atribuem a este apóstolo, “o publicano” (coletor de impostos) é significativamente adicionado. Seus irmãos evangelistas, Marcos e Lucas, em seus catálogos, omitem a odiada profissão à qual ele pertenceu.

Simão chamado ‘o Zelote’. Em Mateus e Marcos, este apóstolo é chamado de “Simão, o cananita”. Este epíteto não significa que Simão era um nativo ou residente em Caná da Galiléia, mas o epíteto “Kananita” tinha o mesmo significado que “Zelotes”, o sobrenome dado por São Lucas, que é melhor traduzido como “o Zelote”. Kananita é derivado da palavra hebraica קנא, zelo. “Ele já havia pertencido à seita de terríveis fanáticos que consideravam qualquer ato de violência justificável para a recuperação da liberdade nacional e provavelmente foi um dos selvagens seguidores de Judas, o Gaulonita (Josefo). Seu nome foi derivado de 1 Macc. 2:50, onde o moribundo Matatias, pai de Judas Macabaeu, diz aos Assidaeans (Chasidim, isto é,’ todos os que foram voluntariamente devotados à Lei ‘) , ‘Sede zelosos pela Lei e dai as vossas vidas pela aliança de vossos pais’ “(Arquidiácono Farrar). [Pulpit, aguardando revisão]

16 Judas de Tiago, e Judas Iscariotes, o que foi o traidor.

Comentário do Púlpito

Judas de Tiago; mais precisamente, Judas, filho de Tiago. Portanto, este discípulo é denominado em ambos os escritos atribuídos a Lucas (o Evangelho e Atos). Na lista de Mateus encontramos um “Lebbaeus”, e na de Marcos um “Thaddaeus” ocupando uma posição na terceira divisão que na lista de Lucas é preenchida pelo “Judas de Tiago”. Não há dúvida de que Lebbaeus e Thaddaeus eram sobrenomes pelos quais o Judas de Tiago, ou Judas, era geralmente conhecido na Igreja. A necessidade de algum sobrenome para distinguir este apóstolo era óbvia. Já na companhia dos apóstolos estava um Judas, ou Judas, que depois foi conhecido como ‘o traidor’. Um também dos chamados irmãos do Senhor, uma figura bem conhecida na sociedade da Igreja dos primeiros dias , também foi chamado de Judas. O significado dos dois epítetos é um tanto semelhante; ambos foram provavelmente derivados do caráter do apóstolo – Lebbaeus do hebraico לב (lev), o coração. Judas provavelmente foi denominado assim por causa de sua seriedade amorosa. Thaddaeus, de thad, uma palavra que em hebraico posterior significava o seio feminino, foi sugerida possivelmente por sua devoção até feminina e ternura de disposição. A adição no catálogo de São Mateus a “Lebbaeus, cujo sobrenome era Thad-daeus”, que nós lido em nossa Versão Autorizada, não ocorre em nenhuma das autoridades mais antigas, “Thaddaeus” sendo encontrado apenas na lista de Marcos.

e Judas Iscariotes, o que foi o traidor. Alguns estudiosos derivaram “Iscariotes” de as-cara, estrangulamento; ou de sheker, uma mentira, ish sheker, o homem de uma mentira; essas derivações são, entretanto, as mais improváveis. O sobrenome é evidentemente derivado do lugar de onde veio este Judas. Queriote, possivelmente a moderna cidade ou vila de Kuryetein, não muito longe de Hebron, em Judá. Kerioth é mencionado em Josué 15:25, ish-Kerioth, um homem de Queriote. [Pulpit, aguardando revisão]

17 Ele desceu com eles, parou num lugar plano, e também com ele uma grande quantidade dos seus discípulos, e grande multidão do povo de toda a Judeia, de Jerusalém, da costa marítima de Tiro, e de Sidom,

Comentário de David Brown

num lugar plano – por alguns rendido “em um lugar nivelado”, isto é, um pedaço de alto planalto, pelo qual eles entendem a mesma coisa, como “na montanha”, onde nosso Senhor proferiu o sermão registrado por Mateus (Mateus 5 :1), de que eles tomam este discurso seguinte de Lucas para ser apenas uma forma abreviada. Mas como o sentido dado em nossa versão é mais preciso, também há razões importantes para considerar os discursos como diferentes. Este contém pouco mais de um quarto do outro; tem problemas próprios, bem como as bem-aventuranças comuns a ambos; mas acima de tudo, a de Mateus foi claramente entregue um bom tempo antes, enquanto isto foi falado após a escolha dos doze; e, como sabemos que nosso Senhor proferiu algumas das Suas mais importantes declarações mais de uma vez, não há dificuldade em supor que essa seja uma de Suas repetições mais extensas; nem nada poderia ser mais digno disso. [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

18 que tinham vindo para o ouvir, e para serem curados das suas enfermidades, como também os atormentados por espíritos imundos foram curados.

Comentário Barnes

espíritos imundos. Demônios impuros e profanos, tendo prazer em atormentar e infligir doenças dolorosas e repulsivas. [Barnes, aguardando revisão]

19 E toda a multidão procurava tocá-lo; porque dele saía poder, e curava a todos.

Comentário de David Brown

curava – manteve a cura, denotando sucessivos atos de misericórdia até que passou por “tudo” que precisava. Há algo excepcionalmente grandioso e pictórico neste toque de descrição. [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

20 Ele levantou os olhos aos seus discípulos, e disse:Benditos sois vós, os pobres, porque o Reino de Deus é vosso.

Comentário de David Brown

No Sermão da Montanha, a bênção é pronunciada sobre os “pobres de espírito” e aqueles que “têm fome e sede de justiça” (Mateus 5:3,6). Aqui está simplesmente sobre os “pobres” e os “famintos agora”. Nesta forma de discurso, então, nosso Senhor parece ter tido em vista “os pobres deste mundo, ricos em fé, e herdeiros do reino que Deus prometeu aos que O amam ”, como estas mesmas bem-aventuranças são parafraseadas por Tiago (Tiago 2:5). [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

21 Benditos sois vós que agora tendes fome, porque sereis saciados. Benditos sois vós que agora chorais, porque rireis.

Comentário de David Brown

rireis – Quão encantadora é a vivacidade desta palavra, para expressar o que em Mateus se chama ser “consolado!” [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

22 Benditos sereis quando as pessoas vos odiarem, quando vos separarem, vos insultarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem.

Comentário de David Brown

separar você – seja de sua Igreja, por excomunhão ou de sua sociedade; ambos difíceis de carne e sangue.

do Filho do homem – Compare Mateus 5:11, “por minha causa”; e imediatamente antes, “por amor de justiça” (Lucas 6:10). Assim, Cristo liga a causa da justiça no mundo com a recepção de si mesmo. [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

23 Contentai-vos nesse dia, e saltai de alegria, porque eis que grande é a vossa recompensa nos céus; pois assim os pais deles faziam aos profetas.

Comentário de David Brown

saltai de alegria – uma palavra mais animada do que “ser extremamente feliz” de “exultar” (Mateus 5:12). [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

24 Mas ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação.

Comentário de David Brown

cheio … risos – que têm todas as suas coisas boas e sentimentos alegres aqui e agora, em objetos perecíveis.

recebeu seu consolo – (veja em Lucas 16:25).

passará fome – seu desejo interior forte como sempre, mas os materiais de satisfação se foram para sempre. [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

25 Ai de vós que agora estais saciados, porque tereis fome. Ai de vós que agora rides, porque lamentareis, e chorareis.

Comentário de David Brown

Ai de vós que agora estais saciados, porque tereis fome – seu desejo interior forte como sempre, mas os materiais de satisfação se foram para sempre.

Ai de vós que agora rides, porque lamentareis, e chorareis – que têm todas as suas coisas boas e alegres sentimentos aqui e agora, em objetos perecíveis. [JFU, aguardando revisão]

26 Ai de vós quando todas as pessoas falarem bem de vós; porque assim os pais deles faziam aos falsos profetas.

Comentário de David Brown

falarem bem de vós – aludindo ao tribunal pago aos falsos profetas antigos (Miqueias 2:11). Para o princípio deste ai e seus próprios limites, veja Jo 15:19. [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

27 Mas a vós, que estais ouvindo, digo:amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos odeiam;

Comentário Cambridge

amai os vossos inimigos. Esse era claramente o espírito da parte mais elevada da Lei e do Antigo Testamento. Êxodo 23:4, “Se encontrares o boi ou jumento do teu inimigo que se extraviou, certamente o trarás de volta para ele.” Provérbios 25:21, “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer.” No entanto, em muitas passagens foi praticamente dito “aos homens da antiguidade”, pelo menos em alguns casos, “odiarás o teu inimigo”, Deuteronômio 7:2; Deuteronômio 23:6; 1Crônicas 20:3; 2Samuel 12:31; Salmo 137:8-9, etc. Nessas passagens, o feroz fanatismo após o exílio babilônico, tinha se alimentado tão exclusivamente, que encontramos o Talmud ressoando com preceitos de ódio dos mais amargos contra todos os gentios, e os antigos foram, naturalmente, levados à conclusão que a repulsa de todos, exceto os judeus, fazia parte da religião judaica (“adversus omnes alios hostile odium”, Tac. Hist. v. 5; Juv. Sat. xiv. 103).

fazei bem aos que vos odeiam. Veja o preceito lindamente aplicado em Romanos 12:17; Romanos 12:19-21. [Cambridge, aguardando revisão]

28 bendizei aos que vos maldizem, e orai pelos que vos maltratam.

Comentário do Púlpito

orai pelos que vos maltratam. O próprio Jesus, em sua cruz, quando orou para que seus assassinos fossem perdoados, pois eles não sabiam o que estavam fazendo, e seu verdadeiro servo Estêvão, que copiou fielmente seu Senhor em seus próprios momentos de morte, são belos, embora exemplos extremos do que significa aqui. É apenas Lucas quem menciona esse ato de Jesus na cruz; é Lucas, mais uma vez, quem preservou as palavras de Estêvão, pronunciadas enquanto o apedrejavam até a morte. Ele mostraria como a ordem do Senhor poderia ser cumprida. [Pulpit, aguardando revisão]

29 Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te tirar a capa, não recuses a túnica.

Comentário Cambridge

oferece-lhe também a outra. O princípio geral “não resista ao mal” (Mateus 5:39; 1Coríntios 6:7; 1Pedro 2:19-23) impresso para sempre na memória e consciência da humanidade por um paradoxo impressionante. Que isso significa apenas um paradoxo em seu sentido literal é mostrado pelo fato de que nosso próprio Senhor, embora divinamente fiel ao seu espírito, não agiu de acordo com a letra dele (João 18:22-23). A observação de um bom homem ao ler o Sermão da Montanha, “ou isto não é verdade ou não somos cristãos”, não precisa ser correta a respeito de nenhum de nós. Os preceitos pretendem, disse Agostinho, mais “ad praeparationem cordis quae intus est” do que “ad opus quod in aperto fit;” mas ainda assim, quanto menos exceções fizermos, melhor e quanto mais absolutamente aplicarmos o espírito das regras, menos dificuldades encontraremos sobre a letra.

a capaa túnica. O himation era a vestimenta superior, o abba semelhante a um xale; o quíton era a túnica. Veja em Lucas 3:11. [Cambridge, aguardando revisão]

30 Dá a quem te pedir; e ao que te tomar o que é teu, não o peças de volta.

Comentário Cambridge

Dá a quem te pedir. Literalmente, “estar dando implica um hábito, não um ato instantâneo. Aqui, novamente, temos um princípio amplo e geral de altruísmo e liberalidade deixado com segurança para o senso comum da humanidade, Deuteronômio 15:7-9. O espírito do preceito de nosso Senhor é agora mais bem cumprido por não dar a todo homem que pede, porque nas circunstâncias alteradas da época, essa esmola indiscriminada seria apenas um prêmio para a impostura, degradação e vício. Por “dar”, nosso Senhor quis dizer “conceder uma bênção”, mas a mera doação descuidada agora, longe de conceder uma bênção, perpetua uma maldição e inflige um dano. O espírito do preceito é de caridade generosa, mas atenciosa. O amor às vezes deve violar a letra como a única maneira possível de observar o espírito (Mateus 15:26; Mateus 20:23). [Cambridge, aguardando revisão]

31 E como vós quereis que as pessoas vos façam, fazei-lhes vós também da mesma maneira.

Comentário Lange

Aqui está conectado ainda mais intimamente com o dever de amor para com os inimigos, em Mateus 7:12 mais generalizado. Justly Theophylact:νόμον ἔμφυτον ἐν ταῖς καρδίαις ἡμῶν γεγραμμένον. O Salvador dá uma pedra de toque nas mãos de Seus discípulos, pela qual eles poderiam provar a si mesmos se sua atitude para com os vizinhos e inimigos estava de acordo com seus deveres. Sua declaração não contém nenhum princípio, mas uma pedra de toque da moralidade, uma vez que se refere apenas a uma forma externa de ação. Nem é novo (comp. Jesus Sirach xxx. E as passagens citadas por Tholuck, p. 488 seq.), E pode até ser mal utilizado pelo egoísmo e perversamente interpretado por zombadores, exceto se for entendido e aplicado com todo o espírito de Cristandade. Onde for assim usado, descobriremos nele um preceito claro, simples e universalmente aplicável da sabedoria prática da vida, totalmente adequado para o propósito para o qual o Salvador o deu. Deixe apenas uma ênfase especial ser dada ao καθώς. Felizmente Lange:“Não o que as pessoas desejam de nós, mas de acordo com tudo o que desejamos delas, de acordo com o que devemos fazer a elas”. Acrescentamos que aqui o padrão não é confiado às mãos de todo homem natural, mas às dos discípulos de Cristo. [Lange, aguardando revisão]

32 E se amardes aos que vos amam, que mérito tereis? Pois também os pecadores amam os que os amam.

Comentário Lange

que mérito tereis? É claro que devemos entender que não estamos aqui para pensar na recompensa humana, mas na divina recompensa. Comp. Matt. 5:46, 47.

Pois também os pecadores. Aqui e Lucas 6:33, 34, cada vez ἁμαρτωλοί, em Mateus τελῶναι καὶ ἐθνικοί. Em Lucas, em sua posição de liberalidade para com os gentios, não é a antítese étnica, mas a ética que mais se destaca; mas o significado permanece o mesmo. O Salvador elevará Seus discípulos acima da posição da moralidade comum do homem natural. [Lange, aguardando revisão]

33 Pois se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito tereis? Também os pecadores fazem o mesmo.

Comentário Ellicott

As ações reais de bondade tomam o lugar em Lucas, que em Mateus é ocupado pelas saudações que eram apenas os sinais externos de bondade. [Ellicott, aguardando revisão]

34 E se emprestardes àqueles de quem esperais receber de volta, que mérito tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberam de volta o tanto equivalente.

Comentário Ellicott

E se emprestardes àqueles… Esta ilustração especial da lei da bondade altruísta está nesta colocação peculiar a Lucas; mas está implícito no preceito de Mateus 5:42.

para receberam de volta o tanto equivalente. É notável, o que implica que os preceitos foram dados em primeira instância aos ouvintes judeus, que o recebimento de juros sobre o empréstimo não é contemplado de forma alguma. [Ellicott, aguardando revisão]

35 Em vez disso, amai aos vossos inimigos, fazei o bem, e emprestai, sem nada esperar disso; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque é benigno até para com os ingratos e maus.

Comentário Ellicott

amai aos vossos inimigos. O tempo verbal do verbo grego pode ser notado como implicando uma regra de ação perpétua e permanente.

sem nada esperar disso. Melhor, em nada perder a esperança. É possível que o verbo grego tenha o sentido dado no texto, mas seu significado uniforme na Septuaginta (como em Eclesiástico 22:21-24; Eclesiástico 27:21), o que deve ter grande peso na interpretação de um escritor como Lucas, é o de “desistir da esperança”, desespero. E isso dá, é óbvio, um significado não menos admirável do que o da versão recebida:“Dê e empreste de acordo com a lei de Cristo, e não deixe a ausência de lucro imediato fazer você perder o ânimo e a esperança”. Existe uma “grande recompensa”. As últimas palavras pelo menos nos lembram da promessa feita a Abraão, e podem ser interpretadas por ela. O próprio Deus é nossa “grande recompensa” (Gênesis 15:1). Um ou dois manuscritos dê um pronome masculino em vez de um neutro após o verbo e, nesse caso, o verbo deve ser considerado transitivo. Devemos, portanto, escolher entre o nada desesperador ou não levar ninguém ao desespero. No geral, o primeiro parece preferível. Assim considerado, podemos compará-lo com a descrição de Paulo de “caridade” ou “amor”, como “esperar todas as coisas” (1Coríntios 13:7), e seu conselho:“Não te canses de fazer o bem” (Gálatas 6:9) .

filhos do Altíssimo. A passagem é notável como a única instância em que o próprio nosso Senhor aplica este nome ao pai.

é benigno. A palavra generalizada toma o lugar da referência mais específica à chuva e ao sol como dádivas de Deus para todos, em Mateus 5:45. A palavra traduzida como “bondoso” é aplicada a Deus na versão grega do Salmo 34:8, citado em 1Pedro 2:3, e ali é traduzida como “gracioso”. [Ellicott, aguardando revisão]

36 Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso.

Comentário Cambridge

Sede misericordiosos. Em vez disso, torne-se ou mostre-se misericordioso (omita οὖν, א BDL).

misericordioso. Mateus tem “perfeito”, Mateus 5:48; mas que não há diferença essencial entre os dois evangelistas, podemos ver em expressões como “o Pai da Misericórdia”, 2Coríntios 1:3; “O Senhor é muito misericordioso e misericordioso”, Tiago 5:11; “Revesti-vos, pois, de eleitos de Deus … entranhas de misericórdia, de bondade”, Colossenses 3:12; Isaías 30:18. “Deus só pode ser nosso ideal em Seus atributos morais, dos quais o Amor é o centro.” [Cambridge, aguardando revisão]

37 Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; liberai, e vos liberarão.

Comentário de H. D. M. Spence

Não julgueis, e não sereis julgados. Jesus queria que seus seguidores evitassem um grande erro que era muito comum na vida religiosa judaica de seu tempo – o hábito de julgar os outros com reprovação. Essa reprovação nada caridosa e muitas vezes equivocada quanto ao motivos que levaram aos atos de outros, foi uma das práticas do dia que atrofiaram e estragaram toda a verdadeira vida religiosa saudável.

não condeneis, e não sereis condenados. Aquela condenação impiedosa que, independentemente das circunstâncias, condenou como pecadores além dos limites da misericórdia, classes inteiras de seus compatriotas, publicanos, samaritanos e semelhantes. Este julgamento dos outros arrogante, no caso das seitas judaicas dominantes, resultou em uma avaliação indevida de si mesmos. Os discípulos de Cristo devem ter muito cuidado ao julgar e condenar os outros; sua regra deve ser, não a condenação, mas o perdão dos outros. [Spence, 1897]

38 Dai, e será vos dado; medida boa, comprimida, sacudida e transbordante vos darão no vosso colo; pois com a mesma medida que medirdes vos medirão de volta.

Comentário Barnes

medida boa – ou medida “completa”.

comprimida, assim como figos ou uvas podem ser, e assim muitos mais podem ser colocados na medida.

sacudida – para torná-la mais compacta, e assim possibilitar mais.

vos darão. Esta é a recompensa de “dar” aos pobres e necessitados; a pessoa que é generosa encontrará outras generosas para ela ao lidar com elas, e quando ela também estiver em circunstâncias de necessidade. Alguém que é gentil com os pobres – que tem esse “caráter” estabelecido – encontrará muitos que estão prontos para ajudá-lo abundantemente quando ele passar necessidade. Aquele que é avarento, inacessível, mesquinho, encontrará poucos ou nenhum que o ajude.

no vosso colo – ou seja, para vocês. A palavra “colo” (ou peito) aqui faz referência a um costume entre as nações orientais de fazer o peito ou a frente de suas vestes grandes, para que coisas possam ser levados nelas, tendo a mesma finalidade de nossos bolsos. Compare Ex 4:6-7; Provérbios 6:27; Rute 3:15. [Barnes]

39 E disse-lhes também uma parábola:Acaso pode o cego guiar outro cego? Não cairão ambos no buraco?

Comentário de David Brown

Acaso pode o cego… – não no Sermão da Montanha, mas registrado por Mateus em outra conexão muito marcante (Mateus 15:14). [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

40 O discípulo não está acima do mestre; mas todo aquele que estiver completamente capacitado será como o seu mestre.

Comentário de David Brown

O discípulo… – isto é, “O discípulo quer chegar ao seu mestre, e ele se considera completo quando o faz:se você for então cego, líder dos cegos, a perfeição do seu treinamento sob você será só o poupe mais certamente em uma ruína comum com vocês. ” [Jamieson; Fausset; Brown, aguardando revisão]

41 E por que tu prestas atenção no cisco que está no olho do teu irmão, e não enxergas a trave que está no teu próprio olho?

Comentário Cambridge

tu prestas atenção no cisco. O hipócrita vê (blepei) ao menor olhar o cisco no olho de seu irmão; mas nem a inspeção mais cuidadosa permite que ele observe (katanoein) o raio muito óbvio em seu próprio olho. A palavra mote está no karphos original, um talo ou lasca, e essa também é a ideia de mote. Assim, em holandês mot é pó de madeira.

a trave. Toda a ilustração é judaica e foi usada para expressar a impaciência de uma repreensão justa (Babha Bathra, f. 15. 2) de modo que ‘cisco’ e ‘trave’ se tornaram proverbiais para pequenas e grandes falhas. O provérbio também implica, ‘Como você pode ver as falhas dos outros corretamente com um feixe no fundo do seu olho (ἔκβαλε… ἐκ, Mateus 7:5)? como você ousa condenar quando está muito pior? [Cambridge, aguardando revisão]

42 Ou como podes dizer a teu irmão:“Irmão, deixa-me tirar o cisco que está no teu olho”, se tu mesmo não prestas atenção na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave de teu olho, e então verás bem para tirar o cisco que está no olho do teu irmão.

Comentário Cambridge

Hipócrita. Romanos 2:1, “Quando julgas a outro, tu te condenas a ti mesmo.” “Se condenamos os outros quando somos piores do que eles, somos como árvores ruins que fingem dar bons frutos” (Bengel). [Cambridge, aguardando revisão]

43 Pois não há boa árvore que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto.

Comentário Lange

Pois não há. Em primeiro lugar, este ditado parabólico está conectado com o que precede imediatamente:”Se não visses a trave no teu próprio olho, serias como a árvore corrompida, que não pode dar bons frutos.” No entanto, visto que o Sermão da Montanha está se apressando para o seu fim, podemos, ao mesmo tempo, remeter esta palavra a todos os requisitos anteriores, cujo cumprimento depende especialmente da condição do coração.

boa árvore. Os frutos aqui nada mais são do que obras. Que o Salvador está aqui pensando particularmente em espíritos enganadores na Igreja Cristã, não acreditamos, embora admitamos de bom grado que Sua declaração também pode ser aplicada a estes:como o sinal de tal não é o andar, mas a doutrina, isto é dado. De maneira notável, os enganadores do povo que, pouco depois de Seu aparecimento, incitaram os infelizes judeus, mostraram a verdade de Sua declaração. Eles sabiam fazer com brilhantes promessas de atrair grandes multidões para o seu lado, mas seu comportamento estava tão em conflito com os princípios essenciais da religião e do Estado, que só por isso eles não podiam deixar de perder toda a confiança. A multidão crédula que deu crédito a suas palavras aprendeu tarde demais que frutos ruins essas árvores de abundante promessa produziam. [Lange, aguardando revisão]

44 Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se tiram uvas dos cardos.

Comentário Ellicott

não se colhem figos dos espinheiros. A forma da ilustração difere ligeiramente daquela de Mateus, onde os espinhos estão ligados às uvas e os figos aos cardos. A palavra para “sarça” é a mesma usada em Lucas 20:37 e na versão da Septuaginta de Êxodo 3:2-4 e Deuteronômio 33:16, para a “sarça” ardente no Sinai. Podemos observar ainda o uso de uma palavra grega diferente (aquela especialmente conectada, como em Apocalipse 14:18-19, com a reunião da safra) para a segunda “colheita” no relatório de Lucas. [Ellicott, aguardando revisão]

45 A boa pessoa tira o bem do bom tesouro do coração, e a pessoa má tira o mal do mau tesouro; pois a sua boca fala daquilo que o coração tem em abundância.

Comentário Lange

A boa pessoa. Provavelmente nenhuma parte do Sermão da Montanha original, mas comunicado fora de sua conexão histórica por Lucas. O Salvador não considera nenhum homem naturalmente bom no sentido pelagiano da palavra, mas fala do pecador que se tornou bom pela graça. Tanto o homem bom quanto o mau Ele apresenta como eles comumente se revelam exteriormente, sem, entretanto, negar que mesmo o homem bom tem seu lado fraco e o homem mau seu lado melhor. O coração de um e do outro é o tesouro (θησαυρός), da qual procede perpetuamente o que nela estava em grande medida oculto. [Lange, aguardando revisão]

46 E por que me chamais:“Senhor!”, “Senhor!”, e não fazeis o que eu digo?

Comentário do Púlpito

É evidente, a partir desse apelo comovente de Jesus, que ele já havia obtido um grande reconhecimento do povo. Não deveríamos estar preparados para afirmar que um grande número de habitantes palestinos o via como o Messias, embora provavelmente alguns o considerassem; mas que geralmente neste período ele era considerado pelo povo, em todos os eventos, e por alguns talvez de seus governantes, como um Ser sem poder comum, como um Profeta, e provavelmente como Alguém maior que um profeta. É pouco provável que mesmo aqueles que o consideraram com a mais profunda reverência quando ele proferiu o sermão da montanha tivessem sido capazes de definir seus próprios sentimentos em relação a ele. Mas por trás das palavras do Senhor está este pensamento:”Esses guias cegos de quem tenho falado, eles com seus lábios professam adorar o Deus eterno de Israel, e ainda assim vivem suas vidas de pecado. Vocês, meus seguidores, não o mesma coisa.” [Pulpit, aguardando revisão]

47 Todo aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante:

Comentário Lange

Todo aquele que vem a mim. Um início da parábola conclusiva peculiar a Lucas, de uma forma mais viva do que em Mateus. Toda a conclusão do Sermão da Montanha mostra nitidamente, palavra por palavra, um clímax impressionante. Muito vívida é a representação do homem que não só começa a construir, mas também vai mais fundo incessantemente (ἐβάθυνε), e não descansa antes de atingir a rocha firme (ἐπὶ τὴν πέτραν). A rocha aqui dificilmente pode ser primariamente a pessoa de Cristo, como em 1Coríntios 10:4, mas é principalmente a palavra, onde quer que Ele mesmo esteja. Quem constrói a partir daí a casa de sua esperança, fica seguro; quem fora d’Ele busca firmeza e segurança segue para a destruição certa. O trabalho de ambos os construtores fica claro com a prova. Comp. 1Coríntios 3:11-15. [Lange, aguardando revisão]

48 Semelhante é ao homem que construiu uma casa, cavou, abriu bem fundo, e pôs o fundamento sobre a rocha; e quando veio a enchente, a corrente bateu com ímpeto naquela casa, e não a pôde abalar, porque tinha sido bem construída.

Comentário Ellicott

quando veio a enchente. Aqui temos menos plenitude de detalhes do que na menção de Mateus de “a chuva” e o “vento”, bem como os rios ou riachos. A palavra traduzida como “inundação” se referia principalmente ao “mar”, mas havia sido transferida para o movimento de qualquer grande extensão de água.

e não a pôde abalar. Melhor, e não tinha força para sacudi-lo. Um pouco mais forte do que a forma em Mateus, que simplesmente afirma o resultado, “não caiu”. Aqui, o resultado da “escavação profunda” na fundação de rocha foi que a casa nem mesmo foi “abalada”.

porque tinha sido bem construída. em algumas versões, “Pois foi fundado sobre uma rocha”. Os melhores manuscritos dão, porque foram bem construídos, o verso tendo sido aparentemente alterado em manuscritos posteriores para torná-lo de acordo com Mateus. [Ellicott, aguardando revisão]

49 Mas aquele que ouve e não pratica é semelhante ao homem que construiu uma casa sobre a terra, sem fundamento, na qual a corrente bateu com ímpeto, e logo caiu; e foi grande a queda daquela casa.

Comentário Lange

sem fundamento. ἐπὶ τὴν ἄμμον, Mateus. Tudo o que não é πέτρα permanece ἄμμος, mesmo que fosse exteriormente como uma rocha. – A ruptura, em Mateus a queda, uma é consequência da outra. Em ambas as redações, o Sermão da Montanha termina como se fosse uma tempestade de vento, terremoto e fogo, 1Reis 19:11, 12. A suposição de que uma tempestade crescente ou chuva acelerou o fim do discurso e colocado nos lábios do Salvador, esta última palavra é ingeniose magis quam vere. De vez em quando, sem dúvida, o Salvador encontra ocasião da natureza que O rodeia para a escolha de Sua linguagem figurada, por exemplo, João 3:8; 15:1. Mas ele também em Matt. 15:14, ou em João 16:21? – Credat Judœus Apella. [Lange, aguardando revisão]

<Lucas 5 Lucas 7>

Visão geral de Lucas

No evangelho de Lucas, “Jesus completa a história da aliança entre Deus e Israel e anuncia as boas novas do reino de Deus tanto para os pobres como para os ricos”. Tenha uma visão geral deste Evangelho através deste breve vídeo (em duas partes) produzido pelo BibleProject.

Parte 1 (9 minutos).

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Parte 2 (9 minutos).

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Leia também uma introdução ao Evangelho de Lucas.

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles – fevereiro de 2018.