Lucas 6:1

E aconteceu que, no segundo sábadodepois do primeiro, Jesus passou pelas plantações, e seus discípulos iam arrancando espigas, e comiam, debulhando-as com as mãos.

Comentário de Frederic Farrar

(1-5) OS DISCÍPULOS COMLHEM ESPIGAS NO SÁBADO (também em Mateus 12:1-8; Marcos 2:23-28)

E aconteceu que, no sábado (“no segundo sábado após o primeiro“, ACF). Lucas dá essa expressão única para indicar o tempo, sem mais explicações, e estudiosos ainda não chegaram a um consenso – e talvez nunca cheguem – sobre seu exato significado. A única analogia ao termo é o deuterodekate ou “segundo décimo” mencionado por Jerônimo em Ezequiel 45. Entre as dez ou mais interpretações sugeridas, e desconsiderando as que parecem totalmente arbitrárias, as principais são:

a. O primeiro sábado do segundo mês (Wetstein).

b. O primeiro sábado após o segundo dia da Páscoa (Scaliger, Ewald, De Wette, Neander, Keim, etc.).

c. O primeiro sábado do segundo ano do ciclo sabático de sete anos (Wieseler).

d. O primeiro sábado do ano eclesiástico. No calendário judaico, o ano tinha dois inícios: o ano civil começava em Tisri (meados de setembro) e o ano eclesiástico em Nisã (meados de março).

O termo “primeiro-primeiro sábado” pode, então, ter sido um nome dado ao primeiro sábado do ano civil (outono), e “segundo-primeiro” ao primeiro sábado do ano eclesiástico (primavera), como sugerido por Cappell e Godet.

e. O Sábado de Pentecostes – com o sábado da Páscoa sendo considerado o protoproton ou “primeiro-primeiro” (Cornélio a Lapide).

Essas e outras explicações devem ser consideradas apenas como conjecturas, pois faltam evidências definitivas entre os judeus para essa nomenclatura sabática. Mas é importante observar que:

  1. A leitura em questão não pode ser considerada absolutamente certa, pois está ausente nos manuscritos א, B, L e em várias versões importantes, incluindo a Síria e a Cópta. Por isso, editores como Tregelles e Meyer a omitem; Lachmann e Alford a colocam entre colchetes. [Sua inserção pode ser explicada por anotações marginais. Assim, se um copista colocou “primeiro” na margem em referência ao “outro” sábado de Lucas 5:6, um copista subsequente poderia ter corrigido para “segundo” em relação a Lucas 4:31; e os dois podem ter sido combinados, gerando uma confusão sem solução. Caso isso seja considerado improvável, parece igualmente improvável que tenha sido omitido intencional ou acidentalmente se fizesse parte do texto original. Além disso, por que Lucas, escrevendo para gentios, usaria uma palavra sem explicação, totalmente sem sentido para eles e tão técnica que em todos os volumes de literatura judaica não há um único vestígio dela?]
  2. Descobrir o significado exato da palavra é importante apenas como uma questão de arqueologia. Felizmente, não há dúvida sobre a época do ano em que o incidente ocorreu. A narrativa sugere que as espigas que os discípulos colheram e esfregaram eram de trigo, não de cevada. O primeiro feixe de cevada madura era oferecido na Páscoa (na primavera) e o primeiro feixe de trigo maduro, no Pentecostes (cinquenta dias depois). O trigo amadureceria mais cedo na rica depressão do vale de Genesaré. De qualquer forma, a época era primavera ou início do verão, e o sábado (seja a leitura correta ou não) provavelmente foi algum sábado do mês de Nisã.

Jesus passou pelas plantações. Compare com Mateus 12:1-8; Marcos 2:23-28. Marcos usa a expressão curiosa de que “ele atravessava pelos campos de cereal”, aparentemente em um caminho entre dois campos—”e seus discípulos começaram a abrir caminho colhendo as espigas”. Tudo o que se pode inferir disso é que Jesus estava caminhando separado de seus Apóstolos e que Ele mesmo não colheu as espigas.

iam arrancando espigas. Isso mostra sua fome e pobreza, especialmente se o cereal fosse cevada. A Lei permitia isso—“Quando entrares no campo de cereal de teu próximo, poderás colher espigas com tua mão,” Deuteronômio 23:25. Mateus, ao dizer “começaram a colher”, mostra como os fariseus prontamente aproveitaram a chance de criticar. [Farrar, 1891]

< Lucas 5:39 Lucas 6:2 >

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.