Pois vós sempre tendes os pobres convosco, porém nem sempre me tereis.
Comentário de J. A. Broadus
Pois vós sempre tendes os pobres convosco. E Marcos acrescenta: “E sempre que quiserem, poderão fazer-lhes o bem” (Compare com Deuteronômio 15:11).
porém nem sempre me tereis – ou seja, em presença física; ele estaria com seu povo espiritualmente (Mateus 28:20; João 14:21-23). Ocasiões extraordinárias podem justificar despesas extraordinárias. Podemos supor (Keim) que em um período anterior ele teria recusado o serviço proposto e direcionado a atenção para os pobres. Mas as oportunidades de ministrar aos pobres nunca cessariam, enquanto que a chance de prestar serviços pessoais a ele logo chegaria ao fim. E esse serviço aparentemente inútil e esbanjador tinha, na verdade, um significado especial e oportuno em relação àquela morte prevista que estava tão próxima (Mateus 26:2). Era uma expressão interessante, gratificante e reconfortante de afeição, uma espécie de antecipação (Marcos) da unção habitual na preparação de um corpo para o sepultamento; compare com a grande quantidade de especiarias caras trazidas por Nicodemos para o sepultamento (João 19:39). Receber essa preparação amorosa poderia ajudar o Salvador a encarar com menos dor o sofrimento e a vergonha que o esperavam. Não é necessário concluir que Maria tinha essa intenção, mas é natural supor que sim, pois todos estavam pensando muito nas suas advertências de que ele morreria em breve; de qualquer forma, ele aceitou o ato dessa forma, o que deve ter sido uma alegria indescritível para ela. “Ela fez o que pôde” (Marcos 14:8) e descobriu que, de fato, havia realizado algo profundamente agradável ao Mestre. Embora não pudesse impedir sua morte iminente, ela pôde expressar seu amor devoto. Intuições femininas, alimentadas por uma afeição intensa, permitiram-lhe enxergar além dos preconceitos e aceitar como uma realidade temível o fato de que o Messias seria realmente morto. Esse anúncio veio a ela como algo novo e surpreendente, sem tempo para as interpretações místicas que os discípulos aparentemente fizeram (veja Mateus 16:21). Tudo o que manifesta adequadamente o amor devoto e, por consequência, fortalece o verdadeiro sentimento religioso, é aceitável a Cristo e útil para nós, pois tais sentimentos são uma parte essencial de um caráter cristão desenvolvido e equilibrado. Esses gestos não deveriam ser apressadamente condenados como não úteis, pois estimulam ações correspondentes. Esse presente, aparentemente sem utilidade prática, e o elogio do Salvador em relação a ele, ao longo dos séculos, inspiraram doações mais generosas aos pobres do que toda a riqueza de Jerusalém. Maria foi censurada duas vezes pelos homens, mas, pelo mesmo ato, recebeu aprovação divina (Lucas 10:40). [Broadus, 1886]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.