E não nos conduzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, o poder, e a glória, para sempre, Amém.
Comentário de E. H. Plumptre
não nos deixes cair em tentação. A palavra original grega inclui dois conceitos representados em português por “provações”, isto é, sofrimentos que testam ou experimentam, e “tentações”, seduções junto ao prazer que tendem a nos levar ao mal. Destes, o primeiro é o significado dominante na linguagem do Novo Testamento, e é o que devemos pensar aqui. (Complemento Mateus 26:41). Somos ensinados a não pensar na tentação em que a cobiça encontra a oportunidade como aquela na qual Deus nos conduz (Tiago 1:13-14); há, portanto, algo que nos choca no pensamento de pedir que Ele não nos leve a isso. Mas provações de outro tipo, perseguição, conflitos espirituais, agonia do corpo ou do espírito, podem chegar até nós como teste ou como disciplina. Será que deveríamos nos esquivar deles? Um estoicismo ideal, uma fé aperfeiçoada, diria: “Não, aceitemos e deixemos a questão nas mãos do nosso Pai”. Mas aqueles que estão conscientes da sua fraqueza não podem se livrar do pensamento de que podem falhar no conflito, e o grito dessa fraqueza consciente é, portanto, “não nos deixes cair em tentação”, assim como nosso Senhor orou: “Se for possível, passe de mim este cálice” (Mateus 26:39). E a resposta à oração pode vir como a isenção da prova, ou no “escape” (1Coríntios 10:13), ou na força para suportá-la. Dificilmente é possível ler a oração sem pensar na experiência recente de “tentação” pela qual nosso Senhor passou. A lembrança daquela provação em todos os seus aspectos terríveis ainda estava presente com Ele, e em Seu terno amor por Seus discípulos, Ele ordenou que orassem para que não fossem levados a algo tão terrível.
livra-nos do mal. O grego pode ser gramaticalmente neutro ou masculino, “mau” no abstrato, ou o “maligno” como equivalente ao “diabo”. Todo o peso do uso da linguagem do Novo Testamento é a favor do último significado. No ensino do próprio Senhor, temos o “maligno” em Mateus 13:19; Mateus 13:38; João 17:15 (provavelmente); na de Paulo (Efésios 6:16; 2Tessalonicenses 3:3), na de João (1João 2:13-14; 1João 3:12; 1João 5:18-19) esta é obviamente a única interpretação possível. Romanos 12:9, e possivelmente João 17:15, são as únicas ocorrências do outro. Adicionado a isso, há o pensamento que acabamos de anunciar, o que nos leva a conectar as palavras de nosso Senhor com Sua própria experiência. A oração contra a tentação não teria sido completa sem referência ao Tentador cuja presença foi experimentada nela. Podemos orar legitimamente para sermos poupados da provação. Se vier, ainda há espaço para a oração: “Livra-nos do poder daquele que é nosso inimigo e Teu”.
porque teu é o Reino… A sentença inteira está faltando nos melhores manuscritos e nas versões anteriores, e é deixada despercebida pelos primeiros Pais, que comentam o restante da Oração. Os editores mais recentes a omitiram, provavelmente como uma adição feita primeiro (de acordo com o padrão da maioria das orações judaicas) para o uso litúrgico da oração e depois interpolada por transcritores para harmonizar o texto do discurso com as liturgias. [Plumptre, 1905]
<Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.