A palavra mortificar traduz os termos gregos θανατοῦν (thanatoun, Romanos 8:13) e νεκροῦν (nekroun, Colossenses 3:5). Em outras partes do Novo Testamento, θανατοῦν refere-se apenas à morte física (na literatura médica grega, significa “mortificação” no sentido patológico), enquanto νεκροῦν descreve a perda vital pela idade avançada (Romanos 4:19; Hebreus 11:12). Nesses versículos citados (Romanos 8:13 e Colossenses 3:5), porém, os termos são sinônimos e usados com sentido ético.
Embora o apóstolo Paulo não despreze a importância de uma autodisciplina sadia (1Coríntios 9:27), a ideia de que “mortificar” significa, aos poucos, controlar os desejos do corpo por meio de práticas rígidas com o corpo não faz parte do que ele está ensinando aqui. Sua exortação é para que “façamos morrer as práticas (más) do corpo” (Romanos 8:13), e isso deve ser feito não por meios físicos, mas pelo Espírito. Ele também diz para “fazer morrer os membros que estão na terra” — ou seja, os desejos impuros e egoístas que usam nosso corpo como instrumento (como a imoralidade sexual, impureza etc.). Para isso, regras religiosas rígidas e práticas de ascetismo não têm valor (Colossenses 2:16-23).
A principal ênfase do ensino de Paulo sobre santificação está no aspecto positivo: a união vital do crente com Cristo. Essa nova vida, por si só, expulsa e rejeita os desejos da natureza inferior (Romanos 13:14; Gálatas 5:18; Efésios 5:18; 2Timóteo 2:22). No entanto, também há um aspecto negativo envolvido: no estado atual da humanidade, a vida espiritual só é possível através da morte do pecado. Estar unido a Cristo crucificado significa também crucificar as paixões e desejos maus (Gálatas 5:24). E, já que fomos ressuscitados com Cristo, buscamos as coisas do alto (Colossenses 3:1); por outro lado, como também morremos com Ele (Colossenses 3:3), isso nos chama — e nos capacita — a fazer morrer tudo que é carnal, mantendo nossos desejos naturais firmemente controlados para os propósitos mais elevados da vida. [Robert Law, Orr, 1915]