Zacarias 1:8

Vi de noite, e eis um homem montado sobre um cavalo vermelho, parado entre as murtas que estavam num vale profundo; e atrás dele estavam cavalos vermelhos, castanhos, e brancos.

Comentário de A. R. Fausset

Vi de noite. Os judeus começavam seu dia ao pôr do sol, portanto, a noite mencionada é a que antecedeu o vigésimo quarto dia do mês (Zacarias 1:1).

e eis um homem — Yahweh, a segunda pessoa da Trindade, manifestada em forma humana, um prenúncio da encarnação. Ele é chamado de “anjo de Yahweh” (Zacarias 1:11-12) e “Yahweh, o anjo da aliança” (Malaquias 3:1; cf. Gênesis 16:7 com Zacarias 1:13, onde aquele que inicialmente é chamado de “anjo do Senhor” (Yahweh) depois é chamado de “Senhor” (Yahweh); Gênesis 22:11 com Zacarias 1:12; Êxodo 3:2 com Zacarias 1:4). Sendo ao mesmo tempo divino e humano, Ele deve ser Deus e homem em uma só pessoa.

montado — isso implica rapidez no cumprimento da vontade de Deus em sua providência, apressando-se para ajudar Seu povo.

sobre um cavalo vermelho — a cor que representa derramamento de sangue, sugerindo a vingança a ser infligida sobre os inimigos de Israel (cf. 2Reis 3:22; Isaías 63:1-2; Apocalipse 6:4); também implica zelo ardente.

entre as murtas — símbolo da Igreja Judaica: não um imponente cedro, mas uma murta humilde, embora perfumada. O estado de abatimento da Igreja era o motivo do desânimo dos judeus, e essa visão tinha o propósito de encorajá-los com esperanças melhores. O anjo não criado da presença de Yahweh, que estava entre as murtas (como em seu lugar de habitação, Salmo 132:14), é uma garantia de sua segurança, ainda que em um estado humilde. Perowne conjectura que a murta foi importada para a Palestina da Babilônia, o que parece possível, já que a murta é nativa da Pérsia. O nome de Ester, Hadassa, significa “murta”, e ela parece tê-lo recebido na corte persa (Ester 2:7). No entanto, a suposição de que a murta não era conhecida entre os judeus antes do exílio é refutada por Isaías 41:19 e Isaías 55:13, que, sem dúvida, foram escritos por Isaías. Já havia comunicação entre Israel e a Assíria/Babilônia (Isaías 39:1-8), tornando possível a importação da murta naquela época.

num vale profundo — em um lugar baixo, ou no fundo de um rio, aludindo à Babilônia, perto dos rios Eufrates e Tigre, cenário do cativeiro de Judá. A murta prospera em lugares baixos e nas margens de rios (Pembellus). Maurer traduz como “em um lugar sombrio” [do hebraico metsulaah, derivado de tsel, sombra]. Ewald e Hitzig traduzem de maneira questionável o termo [bamªtsilaah] como “no tabernáculo (de Deus)”, referindo-se ao tabernáculo mosaico. Para “murtas”, Ewald traduz como “montanhas”, referindo-se às “duas montanhas de bronze” mencionadas em Zacarias 6:1, e apela à Septuaginta [ana meson toon oreoon toon kataskioon]. Essa interpretação é muito forçada e improvável.

cavalos vermelhos — ou seja, cavaleiros montados em cavalos vermelhos; Zacarias 1:10-11 confirma essa visão.

castanhos, e brancos — o branco implica triunfo e vitória para Judá; “castanho” ou de cor ruão [sªruqiym, de sowreeq, um ramo com uvas, ou seja, a combinação da cor escura das uvas com a cor clara ou branca do ramo; relacionado a sheereek, entrelaçar]: uma combinação das cores branca e vermelha. Isso sugere um estado de coisas misto, em parte próspero e em parte adverso (Henderson); ou, mais precisamente, a conexão entre a ira (representada pelo vermelho), prestes a cair sobre os inimigos dos judeus, e o triunfo (representado pelo branco) que está reservado para os próprios judeus, dentro dos planos de Deus (Moore). Alguns anjos (“os cavalos vermelhos”) exercem funções de vingança; outros (“os brancos”) trazem alegria; e outros (“os malhados”) desempenham papéis mistos (cf. Zacarias 6:2-3). Deus tem ministros de todo tipo para promover os interesses de Sua Igreja.  [Fausset, 1866]

< Zacarias 1:7 Zacarias 1:9 >

Todas as Escrituras em português citadas são da Bíblia Livre (BLIVRE), Copyright © Diego Santos, Mario Sérgio, e Marco Teles, com adaptação de Luan Lessa – janeiro de 2021.